quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Bhutto assassinada

  • «Pakistan opposition leader Benazir Bhutto was assassinated Thursday in a suicide attack that also killed at least 20 others at a campaign rally» (Yahoo News, Público)

Musharraf tem o caminho cada vez mais desimpedido. Tenham sido os islamistas por ele, ou ele pelos islamistas, pouco interessa. Reforçaram-se.

O mundo deveria prestar mais atenção ao que se passa no Paquistão, base da Al-Qaeda, país com arsenal nuclear, hostilidade hereditária à Índia e tutela sobre o Afeganistão. Eles estão a constipar-se. Nós vamos espirrar.

NSS: da anti-religiosidade ao anticlericalismo?

É invulgar receber um texto de Inglaterra em que a distinção entre anti-religiosidade e anticlericalismo (ou laicismo) seja tão clara como nos parágrafos que se seguem.

  • «Secularism is about living together in peace and harmony, without exploitation and without coercion. It isn't primarily about attacking religion or religious believers. Although we may have a lot of sympathy with the rationalism of Dawkins and Hitchens, we realise that the argument about the truth or otherwise of religion is separate from the struggle for secularism. Whatever we may feel about religion – and I know that many NSS members have very strong anti-religious instincts – we have to be pragmatic and understand that religion is not going away. So, secularism tries to create a shared space where no-one can dominate. The veracity or otherwise of religious belief is a legitimate argument, but not one that is central to the creation of a secular society. Secularism is about listening to other people's point of view, but sometimes agreeing to differ. It goes like this: you do what you want (within the law) in your space (temple, mosque, church, home), and we'll do what we want in our space (likewise within the law), and we'll agree not to interfere with each other while within those spaces. But in the space that we have to share – the public square as it has been called - there can only be democracy, equality and individual human rights. The direction and shape of our society and culture must be agreed between us, believer and non-believer alike, not imposed by divine right or by superior strength. In that way, we all participate. We don't always get what we want, but at least we have the opportunity to lobby to change things by argument and persuasion, rather than by force and fiat.» (Recebido por correio electrónico da National Secular Society.)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

«Engenharia» político-partidária?

  • «Jerónimo de Sousa recusa divulgar ficheiros do PCP (...) Instado pelo DN, ontem, em Coimbra, o líder do PCP, foi claro: "Não iremos entregar nenhum desses nomes no Tribunal Constitucional". Tudo porque o secretário-geral defende, acima de tudo, o primado do "direito à privacidade dos cidadãos". Recorde-se que segundo a Lei Orgânica nº 2/2003 de 22 de Agosto, vulgo Lei dos Partidos Políticos, no artigo 19º, compete ao Tribunal Constitucional verificar regularmente "com a periodicidade máxima de cinco anos, o cumprimento do requisito mínimo de filiados".» (Diário de Notícias)

Jerónimo tem alguma razão: exigir aos partidos que entreguem no Tribunal Constitucional uma lista de cinco mil dos seus militantes viola o direito fundamental dos cidadãos à privacidade das suas opções políticas. Para evitar a persistência de partidos sem base de apoio social, seria suficiente uma recolha de cinco mil assinaturas de dez em dez anos, à semelhança do que faz qualquer partido que se quer legalizar.

Países diferentes, o mesmo truque

  • «Religious proselytisers crowed with glee when the latest primary school league tables were published. They showed a 22% per cent rise (from 44% to 66%) in the number of "faith schools" in the top 200 best performers. The Church immediately claimed that this was due to their "religious ethos". But independent research has shown that in almost all cases, the success is due to the grossly biased entry criteria that such schools can deploy. Many "faith schools" are filled with middle-class children, whose parents are prepared to jump through the hoops the church sets for them to get a place. The children from less wealthy families living nearby, whose parents cannot play this dishonest game, are severely disadvantaged by this system. And what the myth-makers forget to tell you is that "faith schools" performed much less well in an alternative league table that took account of deprivation, special needs and children speaking English as a second language. When measured by those standards, just 30 of the top 200 places on the "contextual value-added" measure went to religious schools.» (Recebido por correio electrónico da National Secular Society.)

A selecção sócio-económica é o segredo dos resultados da escola privada. No Reino Unido ou em Portugal.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O fim da picada...

A desgraça dos debates presidenciais entre os candidatos republicanos e a evidência, cada vez mais dificil de ignorar, do fracasso completo e absoluto dos 8 anos de George W, vão acabar por convencer os multimilionários que mandam no país e são donos do partido republicano a comprarem antes os democratas. Hilary já está mais à direita que o meu pai...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Cidadania

Uma das coisas que eu percebi aqui nos EUA é que o maior sucesso do capitalismo americano foi o de dominar as classes médias e baixas sem precisar de se rebaixar e fazer as coisas repugnantes (e de mau gosto) que os ditadores da América Latina e do bloco “socialista” tiveram de fazer para dominar as classes média e baixa: assassinatos, prisões políticas, tortura, repressão nas ruas com canhões de água e gorilas...

Embora tenham usado a repressão sanguinária sempre que necessário – de Joe Hill e do massacre de Ludlow, até às brutalidades dos anos 60 e 70 em campus universitários, etc. – os robber-barons mudaram eventualmente de estratégia a seguir à segunda guerra mundial.

Como disse Alan Greenspan no final dos anos 80, a força económica dos EUA reside no medo que os seus cidadãos têm de perder o emprego.

Os americanos não refilam porque foram sabiamente isolados por uma campanha de propaganda que promove o individualismo há mais de 20 anos e porque estão endividados ate à raiz dos cabelos. Aqui metem-nos cartões de crédito por baixo da porta por uma razão muito simples: uma população endividada é muito mais fácil de gerir.

As pessoas perguntam-se como é que é possível que haja tantos tiroteios em escolas e universidades, centro comerciais e edifícios de escritórios ou de serviços públicos. Eu acho que os americanos vivem com níveis de stress muito mais altos do que os outros 95% da população do mundo.

E nestas condições a cidadania é uma impossibilidade. Mais de três quartos da população não votam. A televisão bombardeia as pessoas com histórias de terror, algumas exageradas, a maioria inventadas (as abelhas assassinas, a febre aviaria, os terroristas, a droga, etc.).

O resultado é uma população de indivíduos isolados, temerosos, sem poder negocial, ameaçados pela polícia – o programa “Cops” é só isso: uma demonstração de forca da polícia – se fumarem, se beberem, se deixarem uma roda em cima do passeio, ou se disserem um palavrão na rua, e que se viram fanaticamente para a religião e para a pornografia porque precisam de um escape.

A religião é a única actividade comunitária socialmente aceitável na vida deles. Não admira que eles se enfiem na igreja quatro vezes por semana e dêem o dinheiro todo aos padres, pregadores, ministros, e outros aldrabões de varia pena e pelo que lhes vendem a ilusão de uma vida melhor depois de morrerem.

E isto é a visão que o Barroso e os neo-liberaistem têm para a Europa. Quando a gente lhes fala dos crimes hediondos do Pinochet e do Milton Friedman eles dizem-nos que devíamos ir ler o Karl Popper e mais não sei o quê.

Que é como falarmos ao irmão Torquemada das execuções de pessoas inocentes, por apostasia, e ele dizer-nos que antes de percebermos a coisa bem temos de ir ler o Aristóteles e o S. Tomás de Aquino...

Iniciar as celebrações do centenário da República

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Só em República somos todos cidadãos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Porta aberta ao criacionismo

No recente livro «Criacionismo e Sociedade no Século XX», aprendem-se factos preocupantes sobre o sistema de ensino português.
  • «O programa oficial português de Biologia e Geologia ensina a evolução como uma teoria científica válida – mas o Programa de Biologia e Geologia (11.º e 12.º anos), homologado em 2003, debruça-se sobre a questão da evolução com algumas expressões pouco felizes. No capítulo 2, na parte sobre os Mecanismos de evolução, o programa refere: «Não há consenso sobre as causas da diversidade dos seres vivos. As teorias evolutivas explicam essa diversidade pela selecção dos organismos mais adaptados, razão pela qual as populações se vão modificando.» A expressão “não há consenso” refere-se a mecanismos evolutivos mas pode transmitir a ideia, sobretudo nas mãos de professores menos bem preparados, de que a falta de consenso se aplica à evolução propriamente dita. O programa recomenda a «construção de opiniões fundamentadas sobre diferentes perspectivas científicas e sociais (filosóficas, religiosas...) relativas à evolução dos seres vivos». O que quererá dizer isto? Que o professor deverá ensinar a perspectiva da religião ou da filosofia sobre a evolução numa aula de ciência? Uma leitura menos atenta poderá interpretar que a recomendação é de ensinar a perspectiva científica da evolução como uma hipótese entre muitas (filosóficas, religiosas, etc). O programa sugere que se deverá «Evitar: o estudo pormenorizado das teorias evolucionistas» e evitar «A abordagem exaustiva dos argumentos que fundamentam a teoria evolucionista»(!!!), o que nos parece uma opção inquietante que pode comprometer a solidez dos alicerces do conhecimento das ciências naturais.» («Evolução e Criacionismo: Uma Relação Impossível», Octávio Mateus, 2007)

Pessoalmente, desconhecia que este género de relativismo epistemológico era praticado nas escolas portuguesas, justificando a igualdade de tratamento entre Biologia e teologia, e abrindo a porta ao criacionismo. Fico preocupado.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Intolerância cristã e clericalismo estatal

Parece que não apenas a intolerância cristã está em alta nesta época do ano (e chega à violência de rua), como os políticos mais clericais se esmeram por tentar impôr a religião da maioria a minorias renitentes e ciosas da sua liberdade de consciência.

  • «Experts from the Council for Secular Humanism noted with alarm the passage of H. Res. 847 in the House of Representatives. This unnecessary, unwarranted, and bigoted law, under the misleading title "Recognizing the Importance of Christmas and the Christian Faith" passed the House with overwhelming bipartisan support. It effectively undermines the sort of religious tolerance necessary in these changing times. Just days ago in the midst of the Jewish Festival of Lights, four Jewish men in New York City were attacked on the subway for replying to a group of ten people who wished them a "Merry Christmas" with a similar greeting: "Happy Hanukkah!". For this, these men were first insulted, then beaten. It was a Muslim man who came to their physical defense. The actions of the Congress, by passing the resolution and thus expressing preference to the Christian faith over all the others represented by the diverse population of these United States, encourages this sort of behavior. The First Amendment's guarantee of religious liberty, and of the nonestablishment of religion, was devised to create a secular state in which all religions would be equally tolerated and none given preference. The language of the House resolution effectively undermines the design of the Founders, and creates an atmosphere where non-Christians will continue to be targeted, treated like second-class citizens, and even become victims of violence like those four Jewish subway riders in New York. Paul Kurtz , CSH chair, stated, "It is deplorable that in this day and age and in light of violence against religious minorities here in the United States that the Congress would stoke those flames with preferential language in support of a single religion." David Koepsell, CSH's executive director, noted, "The First Amendment Guarantee was designed to prevent the sort of religious intolerance that resulted in violence in Europe, and our Congress should respect the intent of the Founders."» (Comunicado do Council for Secular Humanism, recebido por correio electrónico.)

(António Marujo: o incidente do metro será parte da «guerra contra o Natal»? Ou da «guerra a favor»?)

Fim da pena de morte em Nova Jérsia

  • «A Assembléia Legislativa estadual de Nova Jersey aprovou nesta quinta-feira a abolição da pena de morte, informou um porta-voz, o que faz desse estado americano o primeiro a abandoná-la em quatro décadas. (...) Oito pessoas estão condenadas à morte em Nova Jersey, onde a última execução ocorreu em 1963.»(AFP)
  • «Gov. Jon S. Corzine signed into law Monday a measure that abolishes the death penalty, making New Jersey the first state in more than four decades to reject capital punishment. The bill, approved last week by the state's Assembly and Senate, replaces the death sentence with life in prison without parole.» (Yahoo News)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ricos e pobres 2

Os americanos – suspeito que os 1% mais ricos e os 31% mais pobres – adoram os neo-cons. Quando se fala da América de direita, fala-se da américa rural, pobre e profundamente religiosa, que persiste republicana mesmo depois dos últimos sete aos de incompetência, violência, corrupção e mentira mais imorais.

E eu lembrei-me da história – tão comum! – do general Sarrail no Médio Oriente.

Odiado pela direita e pelo clero, a história oficial do general Sarrail (1856-1929) abertamente anti-clerical na Europa pos-Pio IX, é a de um fracassado e um genocida, tendo-lhe sido inclusivamente imputada a morte de 25 mil civis no bombardeamento de Damasco, em 1925. George Seldes, que estava lá e o conheceu, conta uma versão diferente: 308 cadáveres e talvez 700 desaparecidos, enterrados nos escombros.

Mas a parte mais interessante do capítulo de Seldes sobre Sarrail [Witness to a Century, p. 235] é a seguinte: quando chegou à Síria, Sarrail encontrou uma classe de emirs, sheiks e pashas que vivia à grande, às costas de uma população miserável, selvagem e fanática, dividida em 29 religiões organizadas. Uma das coisas que chocou o general foi a existência de escravatura. Mas o pior, segundo ele, foi o sistema de servidão medieval, em que as pessoas eram compradas e vendidas com a terra. Sarrail começou a aplicar a lei sistemáticamente e a tentar abolir na prática um sistema de servidão que já não existia na lei. Resultado? Os servos revoltaram-se contra ele:

“I determined first of all to free the serfs. I did not need new laws to do so. The laws were there. I merely ordered the enforcement of the laws already on the books. The law said that anyone who broke the law, sheik or peasent, would be tried snd, if found guilty, would be sentenced to work out his duty to the state by breaking stones and building roads, usually near their own town or village. Of course in this matter all the lawbreakers without exception were the rich landowners, the Arab sheiks, emirs and pashas. […] The serfs, the masses of common people I hoped to free, revolted in favor of their old masters.”

Os melhores aliados dos sistemas injustos – monraquias, oligarquias e outros tipos de cleptocracias - nunca são a classe alta nem a classe média: são os pobres.

Ricos e pobres

Michael Moore mostrou em "Farenheit 911" George W Bush a dizer a um grupo de milionários que eles eram as pessoas que ele representava... os media desataram aos berros, que o documentário de M. Moore era um pafleto radical, que não se podia levá-lo a sério, etc. mas até hoje nunca ninguém demonstrou que seja mentira que todos os Bin Ladens tenham sido tirados do país nos dias a seguir ao 11 de Setembro, que Al Gore foi eleito com a maioria dos votos, que as mentiras que levaram à invasão de Iraque e ao assassinato de mais de um milhão de inocentes não tenham sido deliberadas, etc.

Mas o importante aqui é que os neo-liberias - com as citações dos filósofos todos - nunca demonstraram que o neo-liberalismo não fosse uma estratégia para destruir o estado, a democracia e a classe média, concentrar a riqueza nas mãos de um pequeno grupo de pessoas e transformar o mundo numa Nigéria gigante.

Por mais que o Economist proteste as melhores intenções dos oligarcas que governam o mundo, os factos mostram com clareza o que se está a passar: nos EUA, em 2005, os 1% mais ricos ganharam 18.1% do rendimento total, contra 14.3% em 2003.

The Liberal Media

A extrema-direita controla a televisão e os maiores jornais dos EUA, mas todos os dias "dá voz" a grupos de cidadãos (inventados) que se queixam dos media serem liberais demais. Os parolos da América encarnada acreditam nesta enormidade e repetem os chavões da FOX e da CNN até adormecerem, convencidos que os jornais e as televisões fazem parte de uma conspiração sinistra que quer destruir a civilização ocidental.

E o website Media Matters expõe as mentiras, a propaganda e os ataques coordenados da direita com clareza e objectividade.

Legumes

Pela primeira vez em nove anos a telefonia criticou os jornalistas das grandes cadeias de tevisão por não fazerem perguntas relevantes nos debates. Segundo ouvi hoje de manhãna PBS, uma das preguntas de um dos debates foi qual era o legume preferido de cada candidato. Todos os dias me sinto feliz por não ter televisão e não fazer parte deste circo dos media.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

32%?!

Eu acho que a CNN inventa estas sondagens todas. Até aqui as minhas queridas senhoras da secretaria, todas republicanas até à raiz dos cabelos, já lhe perderam o respeito...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Bom gosto e bom senso

Dezanove minutos por Larry Lessing – o especialista em questões de direitos de autor – sobre a irracionalidade demente e a ganância criminosa das empresas ligadas aos audiovisuais. No TED de 2007:

http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/187

Presidenciais - EUA

Mesmo com W desprezado por quase 80% da população e o partido republicano sem norte nem direcção, não sei se os democratas não vão perder também estas eleições. As máquinas de voto, a campanha de descrédito de Obama que vem aí (um "escândalo" com a compra de uns terrenos, segundo me diz um amigo meu que tem amigos poderosos no GOP), a máquina de propaganda dos media (100% pró-republicana e sempre a pedir desculpa por ser tão de esquerda)...

Se Billary não fizer (ainda) mais concessões aos oligarcas, acho que o Giuliani até tem hipóteses.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Back to the 90´s?

  • «A Sérvia fez saber que irá contestar a independência do Kosovo no Tribunal Internacional de Justiça enquanto a Rússia, seu principal aliado, promete pedir às Nações Unidas a anulação de uma eventual declaração unilateral pelos kosovares.» (Jornal de Notícias)

(What if?) O Kosovo declara a independência, apoiado pelo Império germano-europeu; a República Sérvia da Bósnia anuncia a sua declaração de independência, apoiada na Sérvia e na Rússia; a Croácia anexa a parte croata da Bósnia, apoiada pelo Vaticano e pela Alemanha. Irritados, os muçulmanos da Bósnia entram em guerra com as duas regiões insurrectas, imediatamente saudados por Bin Laden e pelos sauditas. Duas semanas depois, a Sérvia invade o Kosovo.

(É verdade: a presidência da União Europeia passa para a Eslovénia no final de Dezembro.)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Só uma ideia...

...que vi num filme com o Robin Williams: os políticos deviam ser obrigados a andar com os logotipos das empresas que os financiam ou que lhes empregam os filhos e as noras cosidos nos fatos. Como os pilotos de automóvel, por exemplo.

Regressão civilizacional

Em pleno século 21, num dos países mais livres e prósperos do planeta:
  • «The CIA's waterboarding of a top al-Qaida figure was approved at the top levels of the U.S. government, a former CIA agent said Tuesday (...) "This was a policy made at the White House, with concurrence from the National Security Council and Justice Department." (...) Waterboarding is a harsh interrogation technique that involves strapping down a prisoner, covering his mouth with plastic or cloth and pouring water over his face. The prisoner quickly begins to inhale water, causing the sensation of drowning.» (Yahoo News)
Os Estados que usam técnicas de tortura estão a ceder às provocações dos terroristas e a fazer o jogo de Bin Laden. Será que é necessário fazer Bush e Rumsfeld passarem por uma sessão de «waterboarding» para eles compreenderem porquê?

A superioridade moral dos cristãos...

HuffPo:

COLORADO SPRINGS, Colo. — The gunman believed to have killed four people at a megachurch and a missionary training school had been thrown out of the school a few years ago and had been sending it hate mail, police said in court papers Monday.

The gunman was identified as Matthew Murray, 24, who was home-schooled in what a friend said was a deeply religious Christian household. Murray's father is a neurologist and a leading multiple-sclerosis researcher.

[...]

E depois não é a religião (neste caso o Levítico!) que transforma a cabeça destes desgraçados numa sopa de repressões e de ódios; os muçulmanos é que são violentos. Há dias em que eu estou tão farto destes anormais da imprensa e datelevisão, a discutirem se o candidato evangélico é melhor que o mormon, ou o mormon melhor que o católico... eu acho que ter fé devia ser uma condição de exclusão imediata para os candidatos!

domingo, 9 de dezembro de 2007

Paul Kurtz: «Neo-humanism»

  1. «Neo-humanists are skeptical of traditional theism. They may be atheists, agnostics, or even dissenting members of a church or temple. They think the traditional concept of God is an illusion. They reject such writings as the Bible, the Qur’an, and the Book of Mormon as divine revelations. Their skepticism of the ancient creeds reflects the light of scientific or philosophical critiques of the arguments for God—or, more recently, the scientific examination of the sources of the “sacred texts.” They also criticize the moral absolutes derived from these ancient texts, viewing them as the expressions of premodern civilizations—though they may believe that some of their moral principles deserve to be appreciated in order to understand their cultural heritages. Nevertheless, they consider traditional religion’s focus on salvation in the next life an abandonment of efforts to improve this life, here and now. They firmly defend the separation of religion and the state and consider freedom of conscience and the right of dissent vital. They deplore the view of the subservience of women to men, the repression of sexuality, the defense of theocracy, and the denial of democratic human rights.
  2. Distinctively, neo-humanists look to science and reason as the most reliable guide to knowledge, and they wish to extend the methods of science to all areas of human endeavor. They believe that critical thinking and the methods of reflective intelligence should guide our behavior. Neo-humanists appreciate the arts as well as the sciences, and they draw upon the literature of human experience for inspiration. Neo-humanists, however, seek objective methods of corroborating truth claims, not poetic metaphor or intuition.
  3. Neo-humanists are uniquely committed to a set of humanist values and principles, including the civic virtues of democracy and the toleration of diverse lifestyles. They cherish individual freedom and celebrate human creativity and fulfillment, happiness and well-being, the values of the open pluralistic society, the right of privacy, and the autonomy, dignity, and value of each person. Neo-humanists are no less concerned with social justice and the common good, environmentalism, and planetary ethics. They insist that human beings are responsible for their own destinies and that they need to use intelligence and goodwill to solve problems. They attempt, wherever possible, to negotiate differences rationally and to work out compromises using science, reason, and humanist values.»
  4. (Paul Kurtz)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Revista de blogues (8/12/2007)

  1. «Em resumo, o que o Bispo pretende é que o governo do país continue a ser o seu braço secular. Se vier a renunciar a esse papel, lá se vai a salutar laicidade do Estado. Cairá de imediato numa postura de perverso laicismo. Palavra do Bispo Manuel Clemente! É, pois, manifesto que o actual Bispo do Porto confunde manutenção de privilégios eclesiásticos, indevidamente conseguidos num tempo e num regime que foram de Cristandade, com laicidade. E confunde o fim dos privilégios eclesiásticos, que nunca deveriam ter existido, com laicismo. Discernimento, isto? Ou cegueira? Mas pode alguma vez ter discernimento quem, como o Bispo Manuel Clemente, pensa, escreve e reage a partir duma situação de privilégio de casta que não está disposto a perder? (...) O Bispo sabe, como eu sei, que, no mesmo dia em que ser capelão hospitalar deixar de ser financeiramente rentável para os que aceitarem esse cargo, porque o Estado laico teve finalmente a lucidez e a coragem de deixar lhes pagar, e a Conferência Episcopal Portuguesa de modo algum poderá substituí-lo em encargo de tanta monta, as dioceses deixarão de ter padres disponíveis para a função. (...) Felizmente, as mentes mais ilustradas do nosso país já não vão nos estafados malabarismos do Poder eclesiástico.» (Mário de Oliveira no «Diário Aberto».)
  2. «Eu não digo que o André Azevedo Alves me dá vómitos - isso seria, obviamente, gratuito e inaceitável. Os fortes qualificativos que usei resultam de um conjunto de ideias suas que, na minha opinião, o tornam merecedor desses atributos. Posso estar a ser exagerado ou injusto, mas o facto é que não vi isso abordado, de forma explícita, em críticas que fui lendo por aí. A ambiguidade em relação ao PNR, as tiradas boçais em relação a Pinochet, Salazar ou McCarthy, a crueldade e insensibilidade perante o sofrimento alheio (os incontáveis post dele sobre os palestinianos são exemplo disto, como seria a série anti-LGBT), os links “anódinos” sobre a ciência que talvez “mostre” que os pretos são menos inteligentes, não são “meras excentricidades” ou elementos acessórios em relação a uma posição de direita respeitável, séria, educada, bem fundamentada, coerente e intelectualmente “brilhante” que o André Azevedo Alves supostamente representa.» («8/8 Ponto final, sem dramas», no Atlântico.)

Contributo para o estudo do clericalismo na RTP

Mitt Romney: o clericalismo mórmon

  • «Today’s speech by Mitt Romney on the role of religion in American politics reflects an inaccurate understanding of the constitutional relationship between church and state, according to Americans United for Separation of Church and State. (...) “I was particularly outraged that Romney thinks that the Constitution is somehow based on faith and that judges should rule accordingly,“ Lynn said. “That’s a gross misunderstanding of the framework of our constitutional system. “I think it is telling that Romney quoted John Adams instead of Thomas Jefferson or James Madison,” Lynn continued. “Jefferson and Madison are the towering figures who gave us religious liberty and church-state separation. “I was also disappointed that Romney doesn’t seem to recognize that many Americans are non-believers,” Lynn continued. “Polls repeatedly show that millions of people have chosen to follow no spiritual path at all. They’re good Americans too, and Romney ought to have recognized that fact. (...)» (Americans United for Separation of Church and State)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Controlo dos media pelo Governo, mas em Portugal

  • «O Governo Regional da Madeira decidiu "deixar de gastar dinheiro com a imprensa do continente". (...) Ao proibir a assinatura da "imprensa do continente", porque "é dinheiro mal gasto", Jardim abre duas "excepções: O Diabo, "por motivo de solidariedade editorial", e o Expresso, "por ser o resumo semanal dos principais disparates do rectângulo". O Governo madeirense está a ser investigado pela Procuradoria da República pelo pagamento ao semanário O Diabo de "publicidade que não existiu". (...) [Aquele tribunal] apurou que o executivo de Jardim gastou em 2005 quase cinco milhões de euros com o Jornal da Madeira, o único diário estatizado do país, onde o governante quase diariamente assina um página de opinião.» (Público)
E quase ninguém critica.

Bacelar Gouveia: obviamente, demita-se

Nos jornais das últimas semanas, tem-se assumido sem qualquer pudor que o SIS, o SIRP e até a PSP procedem rotineiramente a escutas ilegais (e inconstitucionais). O que diz a este respeito o presidente do conselho de fiscalização dos serviços de informações? Nada. Diz que não sabe de nada. Jorge Bacelar Gouveia diz que «até à data não detectou violação [da lei]». Sintomaticamente, longe de ser um defensor do direito dos cidadãos à privacidade, Bacelar Gouveia não é sequer neutro nesta matéria; pelo contrário, é um defensor empenhado da legalização das escutas telefónicas efectuadas pelos serviços de informações. Como poderemos confiar neste entusiasta da escuta de conversas alheias para «fiscalizar» as escutas telefónicas?

Perante os factos afirmados nos jornais, das duas, uma: ou Bacelar Gouveia sabe o que se passa e mente quando nega que haja escutas, ou não sabe e é incompetente para o cargo. Seja mentiroso ou seja incompetente, Bacelar Gouveia deveria demitir-se.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O bom ditador

  • «Pervez Musharraf embarked on a new five-year term as a civilian president Thursday, promising to lift a state of emergency by Dec. 16 and restore the constitution before January elections (...) But having purged the Supreme Court of judges who might have blocked his plan to continue as president, the U.S.-backed leader has moved quickly to ease a wave of repression that saw thousands of opponents jailed and all independent news channels gagged. The inauguration ceremony came a day after he ended a four-decade military career as part of his long-delayed pledge not to serve as both president and army chief. The post enabled him to topple Sharif in a 1999 coup and hold on to power for [eight] years. (...) "This is a milestone in the transition of Pakistan to the complete essence of democracy," Musharraf told an audience of government officials (...) During his inaugural speech, Musharraf sought to justify the state of emergency, during which he purged the Supreme Court just as it was about to issue a verdict on the legality of his continued rule. The retooled court last week gave its stamp of approval. (...) "I personally feel that there is an unrealistic and maybe an impractical or impracticable obsession with your form of democracy, with your form of human rights, civil liberties," Musharraf said, claiming to speak for developing countries everywhere. (...) "We will do it our way as we understand our society, our environment better than anyone in the West," he said.» (Yahoo News)

Convém não esquecer que o Paquistão é um dos dois Estados centrais do terrorismo islamista (o outro é a Arábia Saudita), serve de base (territorial e de recrutamento) à Al-Qaeda e aliados, tem a bomba nuclear, 170 milhões de habitantes, as instituições de ensino dominadas por diversas facções islamistas, tradição de tutela sobre o Afeganistão, e hostilidade hereditária com a Índia. O presidente Musharraf, no poder desde o golpe militar de 1999, tem ainda a característica deliciosa de mudar a Constituição por decreto, a seguir ao jantar:

  • «Late Wednesday, Musharraf decreed new amendments to the constitution using powers he said he has under the emergency. One of the amendments states that his decisions cannot be challenged by any court and will be considered "always to have been validly made."» (Yahoo News)

Portanto está protegido quanto à sua declaração de estado de emergência, que era inconstitucional antes do jantar. Com um dos líderes da oposição (Sharif) a só entrar no país quando Musharraf deixa (em Setembro mandou os seus homens ao aeroporto deportá-lo, contrariando uma decisão do Supremo Tribunal, agora permitiu-lhe voltar), e com a outra líder oposicionista em detenção domiciliária (Bhutto), Musharraf tem o caminho desimpedido. Tem invocado o extremismo islamista como desculpa para todas estas medidas de excepção, mas ter confrontado políticos não islamistas como Sharif e Bhutto, em vez de procurar trabalhar com eles, não é propriamente um sinal de que projecte um futuro democrático ou minimamente plural (segundo as últimas notícias, impediu Sharif de concorrer às eleições). Não esqueçamos que foi a clique militares/ISIS que apoia Musharraf que planeou, armou e financiou a conquista do Afeganistão pelos Talibã.

Na minha ingenuidade, sempre pensei que um tipo que subiu ao poder através de um golpe de Estado militar, altera a Constituição por decreto, demite juízes do Tribunal Supremo quando não lhe agradam, fecha sistematicamente os jornais da oposição, dispersa manifestações à bala e prende estudantes, mantém fora do país os líderes da oposição, impede-os de concorrer a eleições, e só permite que se vote nestas condições, fosse considerado um ditador. No entanto, parece que quem preocupa os portugas é Chávez. Portanto, desculpai a interrupção. Voltem lá ao Chávez. Esse é que é mesmo um ditador dos maus. Pelo menos, segundo a actual definição ideologicamente orientada de «ditador»: retórica anti-americana, políticas sociais social-democratas, e eleições regulares.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Revista de blogues (4/12/2007)

  1. «Será que entendo bem a democracia portuguesa quando acho que existe uma separação entre o poder politico e o judicial, que quem manda fazer as escutas é o poder judicial, ou seja, um juiz... mas quem autoriza é o poder politico, ou seja, o primeiro-ministro!? O PGR diz não ter controlo sobre as escutas. O Governo avança entretanto com a ideia de autorizar o SIS, a secreta lusa, a fazer escutas telefónicas... continuamos a falar de separação de poderes!? O Governo do Zé diz que é preciso mais equilíbrio, que não pode ficar só nas mãos dos juízes o poder das escutas. É para o bem da segurança nacional, contra o terrorismo e tal...» («O SIS à escuta, ruídos no telefone do Procurador-Geral e os detectives privados da judite», no Posso falar?)
  2. «Resta-nos saber, a nós, cidadãos comuns, quem controlará essas escutas, quem controlará o SIS, quem controlará os abusos, que de uma forma ou outra, acabarão por surgir? Mas o pior ainda está para vir, pois sobre o mesmo ideal, que era em defesa do estado a PIDE/DGS, tinha livre arbítrio para decidir quem prender, quem torturar, quem manchar o nome, enfim, tinha a faca e o queijo, com a conivência claro está do estadista, esse iluminado que deixou Portugal atrasado em mais de quarenta e tal anos. Não posso, deixar de me manifestar contra aquilo a que sob o pretexto de que Portugal estará sob ameaça Terrorista, o SIS, ou outro organismo qualquer, a vigiar o que dizemos ou sequer pensámos.» («SIS, e as escutas», no Democracia em Portugal?)

Rumo ao Estado policial?

Escutar as conversas telefónicas de quem não cometeu crime algum é violar a privacidade alheia. É uma prática própria de Estados totalitários e de mentes doentes, perversas e mesquinhas. Infelizmente, alegando o perigo vago de atentados terrroristas, vai-se generalizando em Portugal a defesa da legalização das escutas efectuadas pelos serviços de informações (SIS e SIRP). Alberto Costa é quem mais se tem destacado na presente campanha pela redução da esfera de privacidade dos cidadãos, ao ponto de defender a revisão da Constituição da República.
Estas medidas começam sempre numa atmosfera de esplêndido consenso. Actualmente, o pretexto é o terrorismo islamista. Mas, não nos enganemos: se cair a protecção constitucional ao direito dos cidadãos a não terem as suas conversas escutadas, não serão apenas os dois membros da Al-Qaeda que se cruzam em Portugal a serem escutados. Logo a seguir serão os da ETA, depois os dirigentes sindicais ou associativos e, no limite, os líderes da oposição ou qualquer desgraçado que se atravesse no caminho de um agente do SIS.
«Artigo 34.º (Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)
1. O domicílio e o sigilo da correspondência e dos outros meios de comunicação privada são invioláveis.
(...)
4. É proibida toda a ingerência das autoridades públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvos os casos previstos na lei em matéria de processo criminal.»
A História mostra que quando o Estado invade a esfera privada dos cidadãos, é necessário retirá-lo de lá pela força. Portanto, é melhor deixarem o artigo 34º como está.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Corolário

Só para ilustrar o meu texto: a propaganda vendida aos cidadãos sob a forma de 'documentário'. Depois daquele memo o mundo nunca mais foi o mesmo.

O memo de Lewis Powell

Há dois anos escrevi isto no meu blog, mas como acho que alguns dos leitores do R&L não leram, aqui vai, pela actualidade e relevância (acho eu):

Há muitos anos – nos anos 80 – ouvi Gore Vidal referir pela primeira vez este memorando e as consequências que ele trouxe para a ordem económica e política mundial.

Perante a revolta geral contra o capitalismo selvagem da Guerra Fria e os crimes perpetrados pelo governo americano em defesa dos interesses das grandes empresas na América Latina, a guerra do Vietnam, etc., a direita percebeu que a guerra ideológica podia estar perdida. Lewis Powell escreveu isto em 1970:

“The most disquieting voices joining the chorus of criticism come from perfectly respectable elements of society: from the college campus, the pulpit, the media, the intellectual and literary journals, the arts and sciences, and from politicians.”

Perante esta situação de descrédito geral da direita e do sistema capitalista o Juiz do Supremo Lewis Powell avançou propostas muito concretas no célebre memorando:

“Business pays hundreds of millions of dollars to the media for advertisements. Most of this supports specific products; much of it supports institutional image making; and some fraction of it does support the system. But the latter has been more or less tangential, and rarely part of a sustained, major effort to inform and enlighten the American people.”

ou

“Under our constitutional system, especially with an activist-minded Supreme Court, the judiciary may be the most important instrument for social, economic and political change.”

Vale a pena ler. E vale a pena ler o balanço feito 35 anos depois por George Lakoff da Universidade de Berkeley.

A resposta da direita incrivelmente eficaz: criaram-se fundações para financiar posições específicas para professores de direita nas melhores universidades, para financiar “think tanks” e especialistas de marketing, para financiar campanhas publicitárias, editoras, rádios, jornais e televisões. Pouco a pouco, utilizando técnicas de propaganda milenárias (repetição, “framing”, etc.), a direita foi acusando os campus universitários, as editoras, os jornalistas e os políticos de simpatias esquerdistas inaceitáveis e conquistando posições, uma após outra. Enquanto que o número de professores universitários de esquerda se mantem firme fora das escolas de economia e gestão, o número de jornalistas com cursos superiores diminuiu constantemete desde os anos setenta até hoje. Hoje seria impensável um escândalo como o de Watergate. Em vez disso, entre 1996 e 2000, assistimos ao escândalo inaudito da perseguição dos media ao presidente Clinton.

Memorial ao massacre de 1506

A Câmara Municipal de Lisboa tem protelado a votação do projecto de memorial ao massacre de 1506 (cerca de 3000 mortos em três dias, vítimas da intolerância anti-judaica e de uma multidão acicatada por frades e marinheiros estrangeiros). Está a correr uma petição para que a CML não esqueça o projecto (assinar aqui).

Pessoalmente, considero que seria da maior importância que o pior massacre por razões religiosas que teve lugar em Portugal fosse assinalado por um memorial no local devido (o Largo de S. Domingos, onde tudo começou). Espero que o projecto não seja apropriado por nenhuma confissão religiosa ou grupo de confissões religiosas, e que celebre os valores que permitem a convivência entre todos os cidadãos: tolerância e laicidade.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os media

Os media são um circo e os jornalistas são meros palhaços, contratados para dizerem e escreverem o que os donos deles quiserem: o terrorismo, a febre aviária, etc.

Mas há uma coisa que me faz pena. Quando eu vou fazer ginástica há seis ecrans na parede e eu gosto de ver, sem som, as expressões e os esgares deles.

Admito que alguns são bovinos e contentinhos, e nunca se questionaram na vida: há quatro anos repetiam as mentiras da Casa Branca sobre as WMDs com o mesmo entusiasmo com que hoje dizem que Bush é um mentiroso e um incompetente.

Mas às vezes vê-se uma centelha de inteligência nos olhos deles e percebe-se que eles têm consciência de se estarem a prostituir. E eu fico a pensar nos calos que eles devem desenvolver e nas justificações que eles devem dar uns aos outros por se andarem a vender.

Anormais

Eu não sei se as outras pessoas são assim, mas eu sinto uma certa volúpia a ver os anormais da extrema-direita no Youtube. Bill Hicks dizia que era como se quando tivessemos uma dor de dentes não conseguissemos deixar o dente em paz, e fossemos lá com a língua a toda a hora.

Mas ontem estive uma hora inteira no Youtube a ver clips com a Ann Coulter, o Sean Hannity, o Bill O'Reilly, o Rush Limbaugh e o Dennis Miller, esse comediante sem talento, que só tem emprego porque é de extrema-direita.

Inacreditável! Na I Guerra Mundial os americanos fizeram testes de QI aos soldados e descobriram que quase metade da população (48.75%) tinha uma idade mental de 12 aos ou menos. Ideias como a Reader's Digest partiram desta constatação quase imediatamente: os atrasados mentais são um mercado giganstesco!

E estes comentadores políticos são o produto de uma ideia ainda mais perversa (que explorar económicamente os anormais): usar os anormais para fins políticos.

A frase do jovem Bush, que na campanha eleitoral do pai disse a um assistente que se podia ganhar as eleições só com o voto dos evangélicos, é isto mesmo. Estes anormais (Coulter, Hannity, Miller, etc.) são empregados pelos oligarcas para reforçarem as convicções imbecis da populaça na rádio e na televisão. Todos os dias, todo o dia.

Isto é que é o "mundo livre" dos neocons.

Bentinho, Bentinho...

Li esta semana no Monde que o papa emitiu uma fatwah contra os ateus.

Eu acho que ele não se devia meter connosco. Devia ir discutir com os judeus e os muçulmanos e os hindus, contarem as superstições pessoais uns aos outros, discutirem quais é que são os deuses que lavam mais branco, etc.

E deixarem as pessoas com uma idade mental superior a 12 anos em paz. :o)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Lisboa ingovernável?

  • «O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), António Costa, não excluiu ontem a hipótese de se demitir do cargo, caso o PSD, com maioria absoluta na Assembleia Municipal, decida, na próxima terça-feira, chumbar o empréstimo de 500 milhões de euros que o executivo pretende contrair, junto da Caixa Geral de Depósitos, para pagar as dívidas aos fornecedores e reequilibrar a situação financeira do município. A ameaça foi deixada, numa declaração aos jornalistas, depois de os vereadores do PSD terem votado contra a proposta ontem aprovada em reunião de Câmara.» (Jornal de Notícias)
As consequências de se fazerem eleições para a vereação mas não para a Assembleia Municipal eram previsíveis: ter maiorias contrárias no executivo e na Assembleia. Se não tiverem todos juízo, Lisboa terá pela frente dois anos de instabilidade.

Democracia e amor cristão

Um amigo meu, católico, decente e culto, estava-me a contar que o pároco da paróquia dele, em San Antonio, TX, passava a vida a falar de justiça (que não deve ser confundida com o direito infantil à vingança), solidariedade, tolerância, respeito pelos outros e consciência social. Era o terror dos paroquianos! Queixas e sugestões repetiam-se todas as semanas.

Os paroquianos exigiam o direito de não serem incomodados com essas coisas ao fim de semana e pediam-lhe que falasse de coisas “positivas”, que os fizessem sentir bem: as coisas boas que Deus dá aos habitantes de paróquias ricas.

E o pobre homem, revoltado, cedia, para não ver a igreja vazia.

Esta pequena história, que se deve repetir em todas as paróquias do primeiro mundo onde há um padre decente – e eu admito que não sejam muitas :o) – explica de forma eloquente a atitude da igreja católica ao longo da História.

Mesmo que o sistema organizacional da ICAR premiasse os melhores e a hierarquia acabasse por ser constituída por estudiosos que percebessem as implicações morais da filosofia que embebe muitos dos textos do Novo Testamento, as classes altas que criaram a ICAR e a usam (seja para limparem a consciência ou fazer lobby político) nunca permitiriam que as ideias do Novo Testamento destruíssem o status quo e dessem ideias de justiça à populaça.

Sempre que a religião inspirou uma nesga de moral num grupo religioso a hierarquia tratou de resolver o problema com rapidez e eficiência: os albigenses, os cátaros, os protestantes...

Os franciscanos sobreviveram porque o núcleo duro vinha da classe mercantil, pertencia a famílias com influência política, e porque no fim cederam e aceitaram tornaram-se inócuos.

Aqui em território evangélico o problema resolveu-se limpando da Bíblia as modernices do Novo Testamento. Aqui acredita-se que Deus ajuda quem se ajuda a si próprio e que portanto os pobres são pobres porque querem, e merecem a pobreza neste mundo e o inferno no próximo.

AC Grayling: «Compounding the issue»

  • «(...) philosophy is a very different business from either religious studies or theology. Philosophy is enquiry, critical and open-ended enquiry, in which examination of evidence, assumptions, claims, methods and motivations is conducted according to the public and challengeable discipline of reason. As a subject of study "religion" admits of historical and sociological investigation, both empirical enquiries. "Theology" turns on the assumption that there is something for it to be about (god or gods), rather as "astrology" turns on the assumption that distant stars and galaxies influence whether you are impatient or sexy or keen on travel. These two -ologies have as much credibility as each other, but the latter usually does less harm than the former. Neither merits bracketing with philosophy, any more than the study of demon possession as a source of disease is bracketable with medicine. (...) But the key point is that ethics is a matter for everyone. The question of how one should live, what one's values should be, what is worthwhile and what is unacceptable in our relationships with each other, and what matters most in our conduct and our aims, is a vital matter on which everyone should reflect. The various religions have their various (and often competing) views on these matters, and are entitled to put them; but they do not own them or even have particularly interesting, still less plausible or constructive, things to say about them - often rather far from it. The reflex running together of the words "religion and morality" as if religion has some sort of special lien, or even monopoly, on the subject of morality is part of the problem, not part of the solution, in our contemporary world. Once we disjoin the words in this unreflectively reflex conjunction, we will make better progress with thinking about what is required for the living of good individual lives in good societies.»

(AC Grayling no The Guardian.)

A guerra inter-galáctica contra o Natal

O Filipe tem razão. Como membros empenhados da conspiração secularista que visa extirpar o cristianismo da Europa (e do resto do universo conhecido e por conhecer), com o propósito secreto de a tranformar num feudo ateísta-islamista (1), deveríamos declarar guerra ao Natal (2), e portanto organizarmo-nos para espalhar piri-piri nas óstias da missa do galo, cortar o fornecimento de papel de embrulho, e espalhar boatos sobre as preferências sexuais do Pai Natal.

Mas, pensando melhor, o relacionamento entre os religiosos e os anti-religiosos deve ser como aquela célebre conversa em que o masoquista diz para o sádico:
-Faz-me mal.
E o sádico responde:
-Não faço, não faço...

Efectivamente, quando se adere a uma religião como a cristã, na qual o mito central é um episódio de perseguição religiosa que termina com o herói a ser humilhado e morto, não há nada que facilite mais a identificação do crente com o seu ídolo do que sentir-se perseguido, nem que seja apenas temporariamente. E a pior desfeita que podemos fazer aos cristãos é, por isso mesmo, não lhes fazer guerras. Um cristão sem se sentir vítima nem se sente cristão. Portanto Filipe, vamos tomar uma bebida quente, e esperar que eles comecem com aquela choraminguice do costume, a queixarem-se que quem não celebra o solstício à moda deles está a persegui-los, que se cruzam na rua com pessoas que dizem «boa tarde» e não «santo Natal na paz do Ratzinger», que se não há um presépio em cada esquina é porque querem extinguir o «Deus» deles, etc. Algo me diz que a festa está prestes a começar (3).

(1) Há mesmo quem acredite nisto. Juro.
(2) Ver alguns episódios da saga do ano passado aqui e acolá.
(3) António Marujo, estou a falar contigo, rapaz.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Barroso Nobel da Paz

Sabemos bem que a economia é uma coisa muito séria e que Barroso não tem tempo para estas coisas das 'externalidades' e dos 'danos colaterais'. Mas eu acho que era educativo se os filhos dele alguma vez vissem esta fotografia pensassem se a vaidade, a ambição política e a ganância do papá justificam isto, que tirei da e-ko.

Austrália


Pergunto-me se o Howard terá consciência de quanto o mundo o despreza por ter sido o capacho de Bush e se perceberá as atrocidades com que pactuou...

O estalinismo ainda existe

  • «O PCP expulsou a deputada Luísa Mesquita, acusando-a de "incumprimento de princípios estatutários" e de "afrontamento ao partido". Luísa Mesquita, que recusou ser substituída no parlamento em Novembro de 2006, acusa o PCP de mentir e de a ter tentado "comprar" quando em troca lhe ofereceu "um emprego na Península de Setúbal". (...) Sobre o alegado incumprimento dos estatutos, a deputada acusou o PCP de a ter enganado, uma vez que lhe foi garantido pela direcção partidária que se se recandidatasse nas eleições de 2005, seria para cumprir o mandato até 2009.» (Esquerda.net)

República da Austrália?

  • «O primeiro-ministro eleito da Austrália, Kevin Rudd, e a vice-primeira-ministra Julia Gillard, a primeira mulher a alcançar este cargo, apesar de ser uma imigrante, oriunda do País de Gales, não perderam tempo. Se bem que ainda não tenham tomado posse, já deram claramente a entender que tencionam ratificar o Protocolo de Quioto, retirar gradualmente as tropas destacadas no Iraque e organizar um referendo sobre se o país deve continuar a respeitar a rainha Isabel II como chefe de Estado. A alternativa seria a proclamação da República, conforme há cinco meses foi admitido pelo líder trabalhista, sendo uma das aspirações de parte da população.» (Público)

domingo, 25 de novembro de 2007

Guerra ao Natal

Estava aqui a pensar que esta é a altura do ano em que precisamos de começar a planear a Guerra ao Natal!

O que é que havemos de fazer este ano para atacar o Natal? Poder-se-á alargar a guerra ao Hanukah? E ao Kwanza?

Podia-se acusar o Pai Natal de ter tendências socialistas: a dar presentes ao pobrezinhos que se portam bem!

Ou fomentar a inveja e a discórdia entre o Pai Natal e o Menino Jesus! Diziamos que eram as regras do mercado, a concorrência, etc.

Ajudem-nos! Aceitam-se ideias!

Viva o Solstício!

Hugo Chavez

Ontem falei com a minha mãe, que estava toda contente porque parece que o rei de Espanha mandou calar “o ditador”.

Eu lembrei à minha mãe que o rei de Espanha nunca foi eleito e que Chavez o foi muitas vezes, com dois terços dos votos, mas ela já não me estava a ouvir. Recomendei-lhe que não se esquesse de votar sempre na direita, onde mandar o padre, porque o Paulo Portas e o Durão Barroso adoram velhinhas e nunca perdem uma oportunidade para lhes aumentarem as pensoes de reforma quando se apanham no poder...

Mas voltando a Chavez, a máquina da propaganda fez dele “um tirano”, quando ele foi sempre eleito e reeleito, e tem o apoio de dois terços da população.

Democratas como Blair, Aznar e Barroso – que participaram na invasão do Iraque com a intenção única de lhes roubar os recursos naturais e chacinaram mais de 1.000.000 de inocentes contra a vontade dos eleitores dos respectivos países – decidiram que é assim.

Chavez pode ser um homem de origens humildes e portanto pouco educado, mas não é um tirano. As mentiras, os golpes de estado, as tentativas de assassinato, a máquina de calúnias organizada que a cleptocracia montou vão certamente levá-lo a perder a cabeça um dia e a fazer algo estúpido, que depois justifique as acusaçoes de Bush e Blair.

Mas para quem se quer dar ao trabalho de tentar saber a verdade, Chavez escreveu e disse coisas interessantíssimas sobre um possível futuro para a América Latina onde haveria lugar para a paz, uma classe média, democracia, preocupaçoes ambientais, sustentabilidade, etc.

A pressão que a extrema-direita tem posto sobre ele, as calúnias,os insultos, as provocaçoes, tornam cada vez mais implausivel - porque desumana - a possibilidade de ele não reagir com brutalidade um dia destes.

E pronto. Fica o problema resolvido. A CIA assassina-o (dessa vez não falha como na última vez), a Europa aplaude, a cleptocracia venezuelana retoma o poder e nós podemos voltas todos para a cama, sabendo que o mundo com eles no poder fica muito melhor...

Os fortes têm esta prerrogativa: podem acusar os inocentes, julgá-los, condená-los e entregá-los à História com as mentiras que lhes convierem melhor. Ninguém vai ver como as coisas foram de facto.

sábado, 24 de novembro de 2007

RTP 1, 21 horas

Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.

Mais boas notícias

Howard perdeu as eleiçoes! :o)

Um a um os aliados de George W vão sendo confrontados com a realidade: Aznar, Blair, os manos polacos, agora Howard. Só os holandeses (e o Ramos Horta) é que ainda não perceberam...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres

No Ladroes de Bicicletas, a velha história:
para os ricos há mais compreensão.

Vale a pena relembrar aqui a canção de Tom Paxton: :o)


I'm Changing My Name to Chrysler

by Tom Paxton


Oh the price of gold is rising out of sight
And the dollar is in sorry shape tonight
What the dollar used to get us
Now won't buy a head of lettuce
No the economic forecast isn't right
But amidst the clouds I spot a shining ray

I can even glimpse a new and better way
And I've demised a plan of action
Worked it down to the last fraction
And I'm going into action here today

CHORUS:
I am changing my name to Chrysler
I am going down to Washington D.C.
I will tell some power broker
What they did for Iacocca
Will be perfectly acceptable to me
I am changing my name to Chrysler
I am headed for that great receiving line
So when they hand a million grand out
I'll be standing with my hand out
Yes sire I'll get mine

When my creditors are screaming for their dough
I'll be proud to tell them all where they can all go
They won't have to scream and holler
They'll be paid to the last dollar
Where the endless streams of money seem to flow
I'll be glad to tell them what they can do
It's a matter of a simple form or two
It's not just renumeration it's a liberal education
Ain't you kind of glad that I'm in debt to you

CHORUS

Since the first amphibians crawled out of the slime
We've been struggling in an unrelenting climb
We were hardly up and walking before money started talking
And it's sad that failure is an awful crime
Well it's been that way for a millenium or two
But now it seems that there's a different point of view
If you're a corporate titanic and your failure is gigantic
Down to congress there's a safety net for you

CHORUS

©1980 Accabonac Music (ASCAP)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

números: os políticos, os empresários e o ensino

Acho que aquele guru que o Cavaco contratou - Porter - disse em privado que os políticos portugueses (os tecnocratas que o Cavaco fez ministros na altura) não eram melhores nem piores que os dos outros países todos da Europa, mas que quase não havia em Portugal empresários educados.

Segundo ele os empresários portugueses era uma data de aldraboes de feira, incapazes de pensar a longo prazo e de cooperarem com quem quer que fosse, estabelecer estratégias, cumprir promessas, etc. Na versão que me contaram falou-se no "dilema dos malfeitores": antes irem presos que cooperarem.

E o ensino era um problema ainda mais curioso porque, segundo ele, desencorajava os estudantes em relação aos riscos, matava a iniciativa, preparava-os para serem trabalhadores por contra de outrém ( ainda a Contra-Reforma).

Desde que o Cavaco foi PM as coisas só pioraram. Sofremos a tragédia do Guterres – o maior incompetente que jamais governou Portugal (e em quem eu votei!) – e as desgraças que se seguiram, até o PM Barroso desertar, vender-nos por uns trocos, e deixar-nos com Santana Lopes, o PM inimputável, e o Paulo Portas, presidente do partido da homofobia...

Não se deve, em nome da justiça, comparar os ministros cavaquistas com os populistas que hoje infestam os partidos. O Ministro da Defesa de Cavaco era um tonto que ia a uma vidente “muito boa” – a que viu o “Bolama” em Cabo Verde – e o das Finanças fazia especulaçoes com as reservas. Mas não eram cínicos, tinham um projecto e queriam mudar as coisas, deixar um país melhor aos filhos.

E comparados com os ‘boys’ do Guterres eram uns meninos de coro, os políticos mais honestos que Portugal alguma vez viu (tirando o SEC, bem entendido). :o)

Mas esse PSD desapareceu. Hoje é uma massa informe, uma Jota que não cresceu, que não tem ideias, que nos anos ‘80 dava na coca e agora anda a prosac, uma escumalha sem vergonha, sem alma, sem coluna vertebral, sem cultura e sem educação, governada por uns neocons de fabrico nacional, muito mais sinistros que os originais, os neonazis aqui do partido republicano.

Neste contexto, as afirmaçoes destes políticos sobre o ensino, o desemprego, a economia, a política externa, etc., são infelzimente naturais...

E a universidade? Nas humanidades é um sistema que se auto-replica e que não se imagina que um dia mude, ainda dividido entre os saudosos do salazarismo e os PCs de gravata.

Nas ciências exactas os doutorados em universidades estrangeiras estão a mudar o sistema para melhor.

Os empresários continuam a ser cada vez menos, mais ricos e sempre boçais, iguais a si próprios.

República e sufrágio universal

Acho especialmente divertido o fervor sufragista que os monárquicos agora manifestam (quando querem criticar a República). Quem os levasse a sério haveria de concluir que defendem o direito de voto de todos os imigrantes residentes há pelo menos um ano, que querem o alargamento do recenseamento eleitoral para os dezasseis anos, etc... E que pensam que a monarquia estaria, em 1910, a preparar-se para universalizar o sufrágio e atribuir o direito de voto às mulheres.

Foi durante a República implantada em 1910 que as associações feministas tiveram pela primeira vez algum apoio político. E foi durante a República que se suprimiu do Código Civil a obrigação da mulher de obediência ao marido (artigo 1185º no Código Civil da monarquia), se legalizou o divórcio pela primeira vez, aliás equiparando o adultério masculino ao feminino como causa para separação, e dando à mulher, por exemplo, a possibilidade de publicar sem autorização do marido. Aos inegáveis avanços nos direitos civis das mulheres, não corresponderam, infelizmente, avanços significativos nos seus direitos políticos (apesar de ter sido em 1911 que pela primeira vez votou uma mulher em Portugal - Carolina Beatriz Ângelo).

BE: a dialéctica poder/oposição

Para quem pensava que o BE viria a ser um pacato partido do «arco da governação»:

  • «O deputado Heitor de Sousa, do Bloco de Esquerda (BE), [ameaçou] romper o acordo com o PS no executivo camarário. Uma posição contrariada pelo vereador José Sá Fernandes (BE) que garantiu aos jornalistas que o acordo não está em causa. (...) Questionado sobre qual seria então a posição oficial do BE, Heitor de Sousa respondeu "A posição oficial foi aquela que eu transmiti. Sá Fernandes foi eleito nas listas do Bloco mas é independente, pode tomar as posições que quiser".» (Jornal de Notícias)
Portanto temos o Bloco-mas-independente Sá Fernandes, no poder executivo com pelouro atribuído e tudo, e o Bloco da Assembleia Municipal, na oposição ao mesmo executivo. Será a isto que se chama a dialéctica?

Questionamentos interessantes

  • «O deputado do PS Manuel Alegre questionou hoje o Governo sobre as mudanças na empresa Estradas de Portugal e disse temer que estas representem "uma espécie de neo-feudalismo, sob a forma de privatização encapotada". Para o socialista "é inusitado um prazo tão longo, sejam 92 ou 75 anos, para a outorga da concessão da rede viária nacional" à empresa Estradas de Portugal, que foi transformada pelo actual Governo em Sociedade Anónima (S.A.). "Parece assim algo temerário comprometer o futuro a tão longo prazo, numa matéria que faz parte da esfera de um dos mais antigos serviços públicos que o Estado teve obrigação de proporcionar aos cidadãos" (...).» (Diário Digital)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Meio milhão de mortos depois

  • «Houve informações que me foram dadas, a mim e a outros, que não corresponderam à verdade. Tive documentos na minha frente dizendo que o Iraque tinha armas de destruição maciça. Isso não correspondeu à verdade» (Durão Barroso; SIC)
E qual é a conclusão que se tira do caso? Alguém mentiu? Ou alguém quis ser enganado?
E da próxima vez? Durão aprendeu alguma coisa, ou faria o mesmo?

domingo, 18 de novembro de 2007

Sicko

Comprei hoje o video de Michael Moore com intenção expressa de o forçar pela garganta abaixo dos meus amigos todos. Eloquente, como sempre. Moore mostra as coisas como elas são. quem é que deve mandar? The wallet or the ballot? Também aqui, o capitalismo contra a democracia.

A minha pobre cabecinha não consegue imaginar quais seriam os argumentos da direita para defender as injustiças obscenas do capitalismo selvagem e da saúde privada desregulamentada. Se a direita visse este documentário, claro. Felizmente não viu e conseguiu que ninguém falasse dele. Mas a pergunta parece ser cada vez mais: se eles não vêem, as coisas não existem? Era o que a FOX dizia há 7 anos: que os media fazem a realidade. Será?

Como Moore demonstra até à exaustão, uma população temerosa (dos terroristas, das abelhas africanas, do aquecimento global, etc.), endividada (cartoes de crédito, empréstimos escolares, etc.) e ignorante (religiosa, contra a ciência!) tem muito menos poder negocial perante os cleptocratas do que a população francesa (com educação gratuita e sem empréstimos), que pára a França quando os cleptocratas abusam (todos os anos).

Não é possível imaginar o dia em que os americanos se rebelem contra o capitalismo selvagem, ocupados como estão com a guerra ao terror, os casamentos gay e o aborto.

Mas as coisas estão-se a degradar todos os anos para os pobres - à medida que se tornam melhores para mim... não sei se esta situação será sustentável por muito mais anos.

Musharraf

Um editorial interessante e sem papas na língua, sobre a crise paquistanesa. Na imprensa portuguesa? Não, no Estado de S. Paulo.
  • «O caso do general Pervez Musharraf, que tomou o poder no Paquistão em 1999, abatendo com uma quartelada o seu sempre instável e quase sempre corrupto regime civil, segue um modelo conhecido pelo mundo afora. No mês passado, fingindo ceder às pressões por mais democracia do seu aliado norte-americano, que desde o 11 de Setembro o cacifou com mais de US$ 10 bilhões e aceitou a sua bomba atômica em nome do combate ao terrorismo islâmico, o autocrata convocou a segunda eleição desde que subiu ao poder, tão fraudulenta como a anterior, e se reelegeu. (...) Mas Musharraf não fechou as madrassas que pregam a guerra religiosa e formam homens-bomba, não tratou de prender os líderes do Taleban paquistanês e nem de dissolver as células terroristas que têm organizado uma série de atentados suicidas em todo o país. Também não enviou forças militares para acabar com a “zona liberada” que o Taleban e a Al-Qaeda instituíram na fronteira com o Afeganistão. Limitando-se a prender juízes, advogados, defensores dos direitos humanos, professores e artistas, o ditador demonstrou claramente que seu objetivo não era combater o “terrorismo e o extremismo”, mas calar os grupos que há anos tentam, por via pacífica, transformar o Paquistão numa democracia secular. Tanto assim que, no mesmo dia em que decretou o estado de emergência e mandou prender as principais lideranças civis e democráticas do país, o general Musharraf determinou a libertação de 28 prisioneiros do Taleban, um dos quais sentenciado a 24 anos de cadeia por ter transportado explosivos usados em atentados. (...) Para ter uma base próxima ao Afeganistão, ao Iraque e ao Irã, os EUA fizeram vistas grossas para a situação interna do Paquistão, e assim foram criadas as condições para o paradoxo: o Paquistão governado por um aliado na “guerra contra o terror” é, também, um abrigo seguro do comando da Al-Qaeda e um núcleo importante do radicalismo islâmico.»

sábado, 17 de novembro de 2007

Liberalismo e ‘liberalismo’

Para esclarecer uma confusão com meu uso da palavra liberal.

O que eu quiz dizer foi que na Europa chamamos neoliberais aos que aqui nos EUA se chamam neoconservadores (os Joões Carlos Espadas e os Drs. Arrojas dos EUA).

Isto não quer dizer que eles sejam liberais politicamente, quer dizer que eles são a favor da desregulamentação económica. Porque sabem que ‘Entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, c´est la liberté qui opprime et la loi qui affranchit.

Os que aqui nos EUA se chamam liberais defendem o liberalismo político e acreditam quase todos que não há liberdade sem justiça social: educação, informação, etc. Porque sabem que ‘Entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, c´est la liberté qui opprime et la loi qui affranchit.

Mas há de tudo neste mundo e felizmente as pessoas não se dividem em dois campos ideológicos definidos com esta simplicidade. Por exemplo, um amigo meu que eu adoro e respeito imenso e que é uma pessoa excelente, generoso, etc., foi aluno do Milton Friedman e acredita nos dois liberalismos, político e económico, com a mesma energia.

Em Portugal as coisas são, infelizmente, mais simples. A direita (incluindo os neocons) tem uma tradição muito grande de marialvismo. Como se sabe, o marialvismo foi uma reacção da aristocracia portuguesa aos ideais do iluminismo, que se materializaram, por exemplo, nos esforços do Marquês de Pombal para ensinar os nobres a ler (uma afronta que ainda não está desculpada).

Por isso é que nos é dificil imaginar os políticos neocons a lerem Mill e Popper, e a filosofarem sobre teorias políticas durante os jantares em que os ricos lhes prometem favores a troco de favores.

Eu nunca sou convidado para os jantares privados do Dr. Barroso, mas suspeito que neles não se discute Plinio nem Tucidites... :o)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

E pronto!

Tudo o que interessa sobre o ataque concertado da extrema direita à ciência neste website: http://www.pbs.org/wgbh/nova/id/judge.html

Ficam as perguntas: os proponentes do ID vão ao médico, usam televisoes, andam de avião... não lhes interessa a saúde dos filhos? Não lhes interessa a segurança dos avioes?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Neocons

Tanta retórica, tantos filósofos – Poppers, Friedmans, Hayeks, Mills, etc. – e depois os políticos que os defendem são todos uns desgraçados... não há entre os dirigentes do PP e do PSD uma única pessoa com coluna vertebral, um único messias que os salve da mediocridade comezinha, dos pequenos escândalos com sobreiros e com cheques assinados “Jacinto Leite Capelo Rego”, das suspeitas de homossexualidade envergonhada, de incompetência, da cobardia, da corrupção, da ignorância, da hipocrisia, da cupidez, da parolice, etc.

Exactamente como aqui. Todas as semanas há mais outro republicano (‘value voters’ como eles se autodenominam) na primeira página dos jornais: um porque ofereceu 20 dólares a um polícia à paisana para lhe fazer sexo oral, outro foi preso na casa de banho de um aeroporto por espreitar e meter as mãos por baixo da baia da retrete do lado, outro (um pastor protestante) por ter sido encontrado morto na sala com dois fatos de mergulho vestidos, um por cima do outro, e um vibrador enfiado no rabo, hoje é um senador, David Vitter, a testemunhar num escândalo de prostituição... e isto são as coisas que não interessam.

As que interessam estão piores: a guerra do Golfo está perdida (mais de 1 milhão de civis mortos), agora descobriu-se que os soldados que voltam para casa se suicidam a um ritmo impressionante (120 por semana), as finanças estão numa desgraça, ninguém acredita em ninguém, a invasão do Líbano devia ser considerada um crime gratuito contra a Humanidade (600 criancas mortas e a morrerem ainda com as ‘cluster bombs’ que os ingleses, americanos e israelitas lhes mandaram para cima), os jornalistas são todos empregados dos partidos, não há debate de ideias, a separação da igreja e do estado desapareceu, para o ambiente, a educação e a justiça social esta década foi uma década perdida, e todos os dias os neocons nos espantam, quando julgávamos que já não se podia descer mais abaixo do que no dia anterior.

Assim, acho que os neocons e os defensores das virtudes da religião (os ‘value voters’) nos deviam explicar melhor a relação entre o que escrevem os profetas deles (Popper, Hayek, S. Marcos, S. Mateus, etc.) e a realidade que eles criaram na última década.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Abraão, ou a obediência

No primeiro livro da Bíblia, Abraão recebe ordem de «Deus» (dito, significativamente, «o Senhor») para matar o seu filho Isaac. Abraão não estranha a ordem e nem sequer hesita: pega no seu único filho e leva-o para o altar dos sacrifícios. Pelo caminho, Isaac (cuja idade desconhecemos mas que é suficientemente crescido para falar), pergunta ao seu pai que animal sacrificarão em holocausto. Abraão responde que «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho». Chegados ao altar, Abraão dispõe a lenha, ata o filho, e já ergue o cutelo no ar para lhe cortar a garganta quando recebe ordem divina para parar. Era apenas um teste, e pela sua obediência é recompensado pelo «Senhor» com a promessa de uma descendência numerosa. Registe-se que o Isaac deste episódio nascera pouco depois de uma «aliança» entre o «Senhor» e o obediente Abraão, na qual Abraão prometera cortar o prepúcio a todas as crianças do sexo masculino suas descendentes a troco de algumas terras do Médio Oriente.


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O episódio do sacrifício de Isaac tem um sentido evidente: o «Senhor» («Deus») recompensa a obediência imediata e incondicional, e a disponibilidade para matar os próprios filhos. Não é demais sublinhar este último aspecto. A evolução dotou o animal humano de sentimentos de afecto pelos filhos. Matar a própria descendência é destruir a sua própria herança genética e perder também um enorme investimento em alimentos, aquecimento e educação. A disponibilidade de Abraão indica-nos o ponto na história da humanidade em que a cultura começou a combater a natureza humana, ou seja, o momento em que surgiram instituições suficientemente poderosas para tentarem convencer os seres humanos de que poderiam ter algo a ganhar na obediência acrítica e ilimitada à autoridade. Evidentemente, a aliança celebrada nesse momento não é entre os homens e um «Senhor» que não dá ordens porque não existe. A aliança é entre a religião e o Estado centralizado e autoritário: a religião convence os homens de que devem obedecer à autoridade estatal; o Estado protege a religião e os seus sacerdotes. A religião que celebra esta aliança propõe um «Deus» sem obrigações éticas ou morais, pois pode mandar os seus seguidores matar os próprios filhos. O Estado que aceita esta aliança saberá utilizar este ideal de obediência bovina, para proveito seu e da religião abraâmica, durante séculos. Existe forma melhor de se convencer os pais (e as mães) a enviar os seus filhos para a morte quase certa numa guerra perdida à partida, do que convencê-los de que há uma vida eterna?

As religiões abraâmicas começaram a ser desafiadas na Europa e em toda a bacia mediterrânica no século 18, o momento em que se disse claramente pela primeira vez que as autoridades tradicionais podiam e deviam ser questionadas, que nenhuma autoridade se podia arrogar um poder acima dos homens (ou das mulheres), e que cada indivíduo era soberano de si próprio. No entanto, o princípio abraâmico sobrevive. Foi útil no século 20 a todos os que quiseram sacrificar o indivíduo ao colectivo, o presente ao futuro, a liberdade individual à autoridade estatal. O princípio abraâmico sobrevive hoje nas religiões que dele saíram (judaica, cristã e islâmica), e que continuam a homenagear Abraão e a sua prontidão para matar o próprio filho ao primeiro resmungo (capricho?) divino. A mutilação sexual que simboliza a «aliança» entre Abraão e o «Senhor» é praticada, até hoje, em todos as crianças que têm o azar de nascerem de pais judeus ou muçulmanos. É a obediência de Abraão que os muçulmanos homenageiam na sua peregrinação a Meca. E entre os cristãos, o homicida Abraão é elogiado por Paulo de Tarso, o verdadeiro fundador da seita. Existe mesmo em Portugal um Fórum Abraâmico que não se envergonha de ostentar o nome do obediente e entusiasta candidato a infanticida.

Em pleno século 21, felizmente são cada vez mais os que rejeitam o ideal de obediência abraâmico e preferem a sua liberdade enquanto indivíduos sem «Senhor».

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

domingo, 11 de novembro de 2007

O direito a converter

No debate sobre a laicidade dos hospitais, não faltou quem garantisse que jamais um capelão católico incomodou quem não desejava a sua presença (ver, por exemplo, esta caixa de comentários). Para esses, felizmente que a Palmira contou a história do abuso clerical que se passou com ela:
  • «Há exactamente 25 anos vivi o pior período da minha vida quando descobri que a minha filha mais velha tinha um problema de saúde muito grave. O 9º piso da Neurocirurgia do hospital de Santa Maria, onde se situava a UCI, a SO e a sala pediátrica, estava em obras, de forma que ficámos ambas numa enfermaria comum. Um padre que visitava os doentes, certamente com as melhores intenções, resolveu dar-me apoio (não solicitado) naquela hora tão difícil. Rapidamente se apercebeu que não me poderia dar qualquer tipo de conforto, mas ficou horrorizado com as implicações éticas e morais (para ele) das minhas opções: a minha filha de 18 meses não era baptizada. Naquela altura em que o Vaticano ainda não tinha abolido o limbo, tal era completamente inaceitável para o padre de que não recordo nem o nome nem a cara, apenas o total desrespeito por mim, pela minha dor e pelo meu estado (entretanto descobrira estar grávida da minha filha mais nova). Recordo a total insensibilidade com que me avisou que não tinha direito a não a baptizar, que o tumor da minha filha era castigo do meu ateísmo, que se não me arrependesse ou pelo menos não a baptizasse, o filho que carregava no meu ventre teria igual destino. Nem o desplante com que me informou, quando soube que a mais velha tinha sobrevivido à intervenção, que o tinha de agradecer a Deus que me dera uma segunda oportunidade de arrependimento.» (De Rerum Natura)
Infelizmente, este género de situações são protegidas pelos regulamentos hospitalares ainda em vigor, que dão aos capelães católicos (os únicos capelães que existem) direito de acesso a qualquer paciente de um hospital público. Praticamente um «direito a converter», ou pelo menos um direito a incomodar. O actual Ministro da Saúde, ao que dizem os jornais, tenciona alterar a situação de forma a que só ature os capelães quem quiser. E por isso tem sido insultado pela bispalhada. Há quem ache que a sua religião confere direitos sobre os outros.

Países diferentes, mesmo truque

Parece que também no Reino Unido as escolas privadas religiosas seleccionam os melhores alunos para depois dizerem que os tornaram bons alunos fazendo-os ir à missa:
  • «Despite the fact that one report after another has shown that church schools ruthlessly cherry-pick their intake in order to achieve the results they do, the churches continue to claim that the schools’ success is all down to their religious ethos. (We will overlook — as the churches want us to — the fact that there are “faith schools” at the bottom of the league tables as well as at the top). The Government is in thrall to the churches. It has created a monster that it cannot now control. And it is continuing to feed that monster in order to make it stronger. More “faith schools”, more privileges, more kow-towing to the demands of bishops and imams – despite the accumulating evidence that this is creating the exact opposite effect to the one they want. And that’s before we get to the question of minority faith schools and the threat they pose to “community cohesion”.» (National Secular Society)
E como se não bastassem as escolas anglicanas, católicas e evangélicas, agora o governo britânico quer subsidiar escolas privadas muçulmanas. Poderiam olhar para a Irlanda do Norte e aprender quais são os problemas que as escolas segregadas não resolvem (e até agravam).

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

o problema...

N. Klein, The Shock Doctrine, p. 134: "For all these reasons [Milton] Friedman had spent a fair bit of time staring down an intellectual paradox: as heir to Adam Smith’s mantle, he believed passionately that humans are governed by self-interest andthat society works best when self-interest is allowed to govern almost all activities – except when it comes to a little activity called voting. Since most people in the world are either poor or live below the average income in their countries (including in the U.S.), it is in their short-term self-interest to vote for politicians promising to redistribute wealth from the top of the economy down to them."

Este problema tem sido resolvido pelos neocons de duas maneiras: com ditaduras (como a chilena) e com propaganda populista: medo (dos imigrantes, dos terroristas, etc.), guerra (que une as pessoas à volta dos caciques), ou religião e ideologia (aqui muitos preferem ser pobres do que viverem num mundo em que os homossexuais tenham direitos).

Por isso se diz aqui que um sítio muito frio e muito escuro é "dark and cold as a republican's hart." :o)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Pela reposição dos Benefícios Fiscais

«Não concordamos

Não concordamos que se diminua a qualidade de vida das pessoas com deficiência.

Já chega tudo o que têm de enfrentar no dia a dia:
Barreiras físicas que lhes limitam a mobilidade. Barreiras comunicacionais que lhes limitam o acesso à informação e ao conhecimento. Preconceitos que lhes limitam a vida.

Pessoas a quem é negada a igualdade com os restantes cidadãos no acesso à educação, emprego, cultura e lazer têm de ser objecto de uma política activa de inclusão. Os benefícios ou deduções fiscais são uma componente essencial dessa política, pois garantem às pessoas com deficiência um rendimento extra que lhes permite fazer face aos custos decorrentes da sua deficiência.

A proposta do Governo na lei do Orçamento de Estado de 2007, reiterada para o Orçamento de Estado de 2008, de retirar benefícios fiscais às pessoas com deficiência em sede de IRS não é justiça social.

Retirar benefícios, que estavam consagrados desde 1988, a quem tem de se confrontar diariamente com inúmeros obstáculos para aceder e se manter no mercado de trabalho, com custos elevados para compensar o seu handicap, é penalizar o esforço de integração feito por essas pessoas e reduzir-lhes drasticamente a qualidade de vida.

Ao alterar a situação vigente desde 1988, sem que para tal tenha efectuado qualquer estudo sobre os custos da deficiência, o Governo legislou sobre o que não conhecia, escolhendo uma via fácil, mas injusta, de melhorar a situação de algumas pessoas com deficiência mais carenciadas, à custa de aumentos de imposto perfeitamente inadmissíveis dos que têm rendimentos médios, como tem sido demonstrado pela imprensa.

Assim, nós, abaixo assinados,

Apelamos ao Governo para que realize um estudo sobre os custos que as pessoas com deficiência suportam para compensar o seu handicap, e que só então defina quais os benefícios ou deduções fiscais que devem compensar esses custos;

Apelamos ao Governo para que evite as situações económicas de ruptura familiar que está a criar com as recentes medidas e que, até ter um conhecimento aprofundado das situações reais, reponha os benefícios fiscais para as pessoas com deficiência, mantendo, porém, a dedução à colecta que definiu recentemente, deixando-as optar pelo sistema de cálculo que lhes seja mais favorável;

Apelamos ainda ao Governo para que fiscalize e puna severamente quem de modo fraudulento aceda a benefícios que devem ser exclusivos das pessoas com deficiência, pondo assim termo a insinuações lesivas da sua honorabilidade.

Lisboa, 19 de Outubro de 2007»


Esta petição encontra-se aqui.

O blogue do movimento encontra-se aqui.

Amor cristão

Como não sei como é que se pode ligar o vídeo a este blog, aqui vai o endereço de um vídeo de 5 minutos que todos os europeus deviam ver:

http://www.huffingtonpost.com/max-blumenthal, e depois, em 26 de Julho, o filme rapture ready. Isto é o partido republicano profundo, o que governa a América há 7 anos, e que Durão Barroso apoia efusivamente. :o)

«Cheque-ensino» perde referendo no Utah

  • «Americans United for Separation of Church and State has hailed a vote by Utah residents, who yesterday rejected a private school voucher plan at the ballot box. Utahns voted 60-40 percent to nullify a sweeping voucher plan passed by the legislature earlier this year. (...) “The American people want to support public schools, not private religious education that teaches dogma, subjects staff to religious qualifications and discriminates in admissions.” (...) “Utahns realized this effort to force vouchers on the state was a plot by ideologues who oppose public education and wisely said they wanted no part of it,” Lynn said. “Residents of the state have no desire to subject their children to a reckless experiment in education.” (...) “Vouchers will not solve the problems we have in some areas of education,” said Lynn. “The people know that, and it’s time to move on and focus on helping public schools in need.”» (Americans United for Separation of Church and State)
Nem sequer num Estado como o Utah, dominado por uma seita cristã conservadora, o «cheque-ensino» consegue impor-se.