sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Diário Ateísta reloaded

O Diário Ateísta, depois de uma fase em que foi quase exclusivamente editado pelo Carlos Esperança, vai reagrupar vários dos seus ex-redactores que entretanto se tinham dispersado por várias paragens da blogo-esfera (e também mais alguns que nunca lá tinham escrito). Voltam a Palmira Silva, o Ludwig Krippahl e o Luís Grave Rodrigues, entra também o Raul Pereira.
Uma nova aurora na luta pelo ateísmo em filosofia, pela laicidade em política e pela ciência enquanto método para estudar a realidade.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aquecimento Global

Uma perspectiva geral, séria e justa sobre o debate científico relacionado com as causas do aquecimento global. Quer para proponentes, quer para detractores da teoria dominante, estes videos do youtube são profundamente esclarecedores.

Vale a pena vê-los do início ao fim (cada um tem cerca de 10 minutos):





Nota: para quem tiver mais tempo, vale muito a pena ver outros videos do mesmo autor.

Discutir com católicos

Há muitos católicos com quem é fácil discutir. Não digo que essas discussões sirvam de alguma coisa no sentido em que alguém acabe por mudar a posição que tinha a respeito de um determinado assunto, mas pelo menos cada um dos intervenientes cmpreenderá melhor a forma de pensar do outro, e as razões que - mal ou bem - o levam a ter determinada posição. Por vezes essas discussões entram num ciclo em que argumentos já repetidos começam a ser utilizados, e fica a sensação que argumentos que nós próprios repetimos afinal não foram entendidos, bem como a sensação que o outro lado sente o mesmo. Mas, aparte desta frustração, existe um respeito mútuo, não tanto pela posição do outro, mas pela pessoa do outro - que é o importante. As boas maneiras caracterizam o debate, e o insulto fica de fora.

Há outros católicos (apesar de tudo não são muitos) com quem é difícil discutir. Não apenas porque não entendem os argumentos que utilizamos, mas principalmente porque confundem argumentar com insultar. Não nego que também haverá ateus assim, mas com esses nunca discuti religião.

Às vezes lembro-me daquilo que me disseram: «um imbecil faz a discussão descer de nível, para depois ganhar por experiência». Em vez de descer o nível, faço um comentário sobre a postura daquele que prefere os insultos aos argumentos, e daí não saio.

Outras vezes, infelizmente, esqueço-me dessas sábias palavras e não resisto a responder na mesma moeda. Assim, se as palavras do meu interlucutor, mesmo que ocupem um parágrafo ou dois e contenham vestígios de riqueza gramatical e vocabular, se resumem ao infantil «Os ateus são parvos, la!la!la!la!», posso ser tentado a retorquir por outras palavras algo como «os católicos são parvos, la!la!la!la!la!». E isto é idiota na medida em que eu nem sequer acredito nisso.

Acredito que muitos católicos, e isto inclui alguns padres, não são parvos, podem até ser brilhantes. E são pessoas tolerantes e boas. No momento em que escrevo estas linhas estou a lembrar-me de um padre em particular, bem como cerca de 10 pessoas que conheci mais de perto (entre familiares e amigos).

Não me interpretem mal: continuarei a discordar dessas pessoas na medida em que acredito que a Igreja Católica tem hoje um impacto negativo na sociedade. Continuo a acreditar que o catolicismo é uma crença errada, não menos disparatada que outras crenças que a nossa sociedade considera ridículas. Continuo a acreditar que as crenças católicas desencorajam em alguma medida a tolerância, e em maior medida o espírito crítico. Isto não é o mesmo que dizer que nenhum católico é tolerante (ver parágrafo acima) ou sequer que qualquer católico seria mais tolerante fora do catolicismo. Acredito que algumas pessoas tolerantes podem ver no catolicismo uma boa justificação da sua tolerância, e por isso esta crença religiosa pode contribuir para que a aprofundem. Mas, como creio que a Bíblia é mais facilmente interpretável de outra forma, percebo que seja mais comum a situação oposta - um intolerante encontra no catolicismo a legitimação da sua intolerância, e assim manifesta-a e aprofunda-a devido à sua religião. Já no que respeita ao espírito crítico, creio que podem existir católicos com muito espírito crítico, mas ninguém o desenvolve devido ao catolicismo. Já o oposto é possível.

Clarificando a minha posição - a de que existem pessoas boas e más entre católicos e ateus, pessoas brilhantes e burras entre católicos e ateus, pessoas tolerantes e intolerantes entre católicos e ateus; a de que apesar de acreditar que a Igreja e a crença católica tem um impacto negativo na sociedade, e que o catolicismo é epistemologicamente equiparável a outras crenças que (mal ou bem) não encontram grande respeito por parte da nossa sociedade, é possível ter uma discussão civilizada com alguns católicos, em que cada um dos intervenientes compreenda melhor as posições do outro - serve este texto para reforçar a minha intenção de não «chafurdar na lama» quando algum crente mais boçal começar a insultar o ateísmo e os ateus sem apresentar qualquer vestígio de argumentação.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

God is Not Great

Comecei ontem a ler este livro formidável de Christopher Hitchens, que devia ser obrigatório nas escolas, a par com as aulas de religião. Eu julgava que tinha uma boa ideia sobre a violência disfuncional das religiões e as situações horríveis que a superstição propicia.

Mas este livro é eloquente. Filho de um pai baptista e de uma mãe judia, ambos apostatas, e educado anglicano (acho eu), Christopher Hitchens conta-nos histórias horríveis de ódio e supertição, doenças e práticas médicas e dietas absolutamente idiotas, inspiradas por ideias infantis de pureza, muitas vezes com resultados letais. Os Jeovás e as transfusões, por exemplo, ou a circuncisão feminina entre muçulmanos, ou a prática de alguns judeus ortodoxos que retiram o prepúcio às criancas com a boca, provocando infecções e herpes entre as crianças em quem estas mutilações medievais são praticadas.

Ainda só li 3 capítulos e já tenho pena de não ter tempo para copiar para este blog várias páginas. "God is not Great" é um livro obrigatório.

Paul Kurtz:«Belief in God Essential for Moral Virtue?»

«A growing sector of world civilization is secular; that is, it emphasizes worldly rather than religious values. This is especially true of Europe, which is widely considered post-religious and post-Christian (with a small Islamic minority). (...)
Secularists recognize the centrality of self-interest. Every individual needs to be concerned with his or her own health, well-being, and career. But self-interest can be enlightened. This involves recognition that we have responsibilities to others. (...)

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However, there is now substantial evidence drawn from evolutionary biology that humans possess a moral sense (see Marc Hauser, Steven Pinker, and David Sloan Wilson). Morality has its roots in group survival; the moral practices that evolved enabled tribes or clans to survive and function. This means that human beings are potentially moral. Whether or not this moral sense develops depends on social and environmental conditions. Some individuals may never fully develop morally--they may be morally handicapped, even sociopaths. That is one reason why society needs to enact laws to protect itself.
There is also of course cultural relativity, but there are, I submit, also a set of common moral decencies that cut across cultures--such as being truthful, honest, keeping promises, being dependable and responsible, avoiding cruelty, etc., and these in time become widely recognized as binding. Herein lie the roots of empathy and caring for other human and sentient beings. Such behavior needs to be nourished in the young by means of moral education. In any case, human beings are capable of both self-interested and altruistic behavior in varying degrees.
Secular humanists wish to test ethical principles in the light of their consequences, and they advise the use of rational inquiry to frame moral judgments. They also appreciate the fact that some principles are so important that they should not be easily sacrificed to achieve one's ends.
To say that a person is moral only if he or she obeys God's commandments--out of fear or love or God or a desire for salvation--is hardly adequate. Ethical principles need to be internalized, rooted in reason and compassion. The ethics of secularism is autonomous, in the sense that it need not be derived from theological grounds. Secular humanists are interested in enhancing the good life both for the individual and society.
(...)» (Paul Kurtz)

Escândalo BPN já chegou à Madeira

O escândalo BPN, onde já saltaram os nomes grandes do cavaquismo, chegou agora à Madeira. Descobriu-se também que a campanha presidencial de Cavaco foi financiada com 100 mil euros dos senhores deste banco que se enganava, quase sistematicamente, nos valores correctos das vendas que fazia:
  • «A ERGI foi vendida em Dezembro de 2006 ao grupo brasileiro WTorre, por 135 milhões de euros. Mas no relatório e contas desse ano, a administração do BPN refere um encaixe de apenas 5,5 milhões de euros com a operação, o que significa que os restantes 129,5 milhões de euros não foram incluídos nas contas do banco.» (Público)

A imaginação voa quando se põe a pensar onde foi parar tanta bagalhoça... Projectos caritativos, sem dúvida.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Democracia

Paul Krugman: "Middle class America [c. 1935-1975]: That’s the country I grew up in. It was a society without extremes of wealth or poverty, a society of broadly shared prosperity, partly because strong unions, a high minimum wage, and a progressive tax system helped limit inequality."

Foi esta sociedade que colocou um homem na Lua, impugnou um presidente escroque, inventou o rock'n'roll, reinventou o cinema, implementou o Plano Marshall e inspirou o Civil Rights Movement.

E isto no contexto da Guerra Fria, contra o poder da enorme do KGB, da American Legion e do KKK, e apesar das barbaridades que a direita cometeu ou instigou na América Latina, da Guerra do Vietnam e dos assassinatos de John e Robert Kennedy, e de Martin Luther Ling.

Durante 40 anos a América foi um dos países mais justos e mais dinâmicos do mundo, com uma mobilidade social extraodinária (a GI Bill). E é em parte essa memória que faz os americanos tão optimistas e quase completamente destituídos de cinismo. Aqui as coisas mudam muito depressa e nem sempre para pior :o)

domingo, 23 de novembro de 2008

Segurança Social

Uma das razões pelas quais a direita se encarniça na luta pela destruição da segurança social é muito simples: os trabalhadores que gozam de regalias sociais tendem a votar na esquerda. Um dos think tanks da extema-direita aqui nos EUA (o Cato Institute) avisou que se Obama conseguir passar um plano de segurança social o Partido Republicano pode sofrer um enorme revés.

Para a direita a religião é um factor fundamental, que permite manter as massas ocupadas com assuntos como o aborto ou o casamento gay, em vez de as deixar considerar as oportunidades que uma distribuição justa da riqueza proporcionariam ao mundo.

Uma das primeiras coisas que Bush fez em 2001 foi transferir o apoio social para organizações religiosas. A outra prioridade na cartilha da direita é desbaratar as finanças públicas para não haver dinheiro para a solidariedade social (small government, como eles dizem). Mas vale a pena ler a opinião do sr. Cannon:

Blocking Obama’s Health Plan Is Key to the GOP’s Survival

Ditto Baucus’ health plan. And Kennedy’s. And Wyden’s.

Why? Norman Markowitz, a contributing editor at PoliticalAffairs.net (motto: “Marxist Thought Online”), makes an interesting point about how making citizens dependent on the government for their medical care can change the fates of political parties:

A “single payer” national health system – known as “socialized medicine” in the rest of the developed world – should be an essential part of the change that the core constituencies which elected Obama desperately need. Britain serves as an important political lesson for strategists. After the Labor Party established the National Health Service after World War II, supposedly conservative workers and low-income people under religious and other influences who tended to support the Conservatives were much more likely to vote for the Labor Party

I’m no student of British history, but that sounds about right. Markowitz continues:

The best way to win over the the portion of the working class in the South or the West that supported McCain and the Republicans is to create important new public programs and improve the social safety net. National health care [and other measures] will bring reluctant voters into the Obama coalition. That is how progress works.

Republicans might want to take note.

(Anyone who thinks that Obama’s plan is not socialized medicine should read this.)

Bentinho, Bentinho!

O vaticano perdou a John Lennon uma piada dita em 1966.

Nunca é tarde para perdoar.

Agora o Vaticano podia-nos pedir perdão por ter apoiado o Ustasa, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet e Videla, pela Operação Condor, por ter deliberadamente escondido e apoiado 5000 pedófilos perigosos durante mais de 20 anos, por ter queimado filósofos, dramaturgos, escritores e matemáticos a torto e a direito durante 250 anos, por ter proibido e queimado livros, por ter mentido a gerações incontáveis de criancinhas sobre o Natal e os presentes que o menino Jesus só dá aos meninos cujos pais têm posses, por ter mentido aos doentes sobre Lourdes e sobre Fátima, por ter inventado a história do coxo de Calandra, por ter mentido aos fascistas sobre os milagres de Monsenhor Escrivá e por ter organizado as crusadas.

Não vale a pena pedirem perdão pelos crimes dos papas porque esses, apesar de serem incontáveis e inenarráveis, estão largamente esquecidos.

sábado, 22 de novembro de 2008

Obama

Gostava de voltar brevemente à questão do Obama e da 'etnia' dele.

A máquina de propaganda da direita divulgou os 'talking points' das eleições através dos canais do costume e a direita portuguesa leu-os e repetiu-os, como faz sempre, lascarinamente e sem pensar.

A narrativa da direita é que a 'culpa' da 'esquerda' teria feito a América progressista votar em Obama só por causa da cor da pele dele. Desta premissa emanaram as discussões sobre a cor dele e a cor da mãe dele, e a do pai, etc. (estou a excluir deliberadamente desta discussão os anormais que queriam discutir se ele era um terrorista muçulmano)

Mas o que esteve em causa foi a eleição de um homem inteligente, culto e normal, com uma família normal e amigos normais, para substituir um idiota, ex-alcoólico e ex-drogado, que passou 8 anos a conspirar contra a democracia em nome do deus dos alcoólicos anónimos e a entregar o erário público a um grupo de amigos. Mais nada.

A questão da cor da pele de Obama faz muito mais sentido num país profundamete racista como Portugal, que se recusa a discutir o esclavagismo e a brutalidade do colonialismo, do que aqui, onde a escravatura e o racismo são discutidos e estudados nas universidades e há políticas de quotas que asseguram que a paisagem humana seja incomparavelmente mais diversa do que na Europa.

Irrita-me um bocado que os europeus (que invadiram e esventraram a Africa, e lhe venderam os habitantes aos americanos e aos brasileiros) passem a vida a falar da América como se a América fosse mais racista do que a Europa.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Proudhon tinha razão

Parece que afinal o Proudhon tinha razão quando dizia que «a propriedade é um roubo».
  • «Foi perto das 21.00 de ontem que José Oliveira e Costa, ex-presidente do BPN, entrou, como arguido, para a garagem do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). Ficando para a História como o primeiro banqueiro de topo em Portugal suspeito de cometer crimes no exercício de funções: burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais são, segundo apurou o DN, as suspeitas que incidem sobre o antigo homem forte do BPN.» (Diário de Notícias)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Partido ou quadrilha?

Luis Filipe Menezes revela-nos algo de útil: que recebeu «ameaças» (sic) de «ex-ministros de Portugal» quando tentou avançar com a fiscalização da supervisão bancária. Alguns ter-se-ão mesmo «demitido» da Comissão Política Nacional do PSD. Nomes, Menezes não diz. Mas a Comissão Política de Menezes incluía Duarte Lima e Arlindo de Carvalho (ex-ministro), de quem hoje se sabe que receberam avultados empréstimos do BPN. Incluía também «ex-ministros de Portugal» como Gomes da Silva e Couto dos Santos. Quais se demitiram?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Fugiu-lhe a boca para a verdade...

Anda aqui uma pessoa cheia de boa vontade, a tentar acreditar que a direita se moderou, se democratizou, que já não tem saudades do salazarismo, e depois aparece a Manuela Ferreira Leite com esta:
  • «E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia» (Público).

Ora bem. Uma ditadura provisória? Provisória quando começar ou quando acabar? E para durar quanto tempo? E com quem? Com a Manuela como ditadora? Ou outro(a)? São só perguntas inocentes. Por enquanto ainda se podem fazer. Se a Manuela partir para a ditadura, já não sei se as poderemos fazer...

Desemprego

  • «Em seis anos, o Norte de Portugal enfrentou mais de 60 casos de reestruturação de empresas que motivaram despedimentos em massa. Dados da Eurofound sugerem a destruição de mais de 17 500 postos de trabalho, sobretudo no sector têxtil. (...) A falência é o principal motivo para estes casos de destruição de emprego (37 empresas) no Norte de Portugal, seguida das reestruturações internas (14) e das deslocalizações (6).» (Diário de Notícias)

Mia Couto: «E se Obama fosse africano?»

  • «Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África. (...) E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
    ###
    1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
    2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-lhe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-lhe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
    3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente".
    (...)
    4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
    5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
    6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
    (...) Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
    Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
    A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
    Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
    (...)» (Mia Couto; ler na íntegra.)

Sobre a discriminação racial

Num texto chamado Uma lança na América, Luís Aguiar Conraria escreve:

Em Fevereiro, Pacheco Pereira escrevia na revista Sábado que Obama era um «produto da fábrica de plástico», «politicamente correcto na cor, nem muito preto, nem muito branco». Admito que, para padrões portugueses e brasileiros, Obama seja considerado mulato. No entanto, para padrões norte-americanos, Obama é negro. Se Obama tem a cor certa, é difícil entender como conseguiram os anteriores 43 presidentes ser eleitos com a cor errada. Na realidade, Barack Hussein Obama não só tinha a cor errada como também tinha o nome errado. Negar isto é desconhecer a realidade. Nos Estados Unidos, a probabilidade de um negro estar preso é oito vezes maior do que a de um branco, a probabilidade de estar desempregado é o dobro e os que estão empregados ganham salários muito mais baixos. Claro que podemos e devemos perguntar se o racismo explica tudo ou se também devemos apontar o dedo à população negra.

Em 2004, Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan levantaram um pouco o véu sobre esta questão, conduzindo uma experiência de campo. Marianne e Sendhil enviaram mais de 5000 currículos vitae falsos como resposta a 1300 anúncios de emprego. A alguns currículos deram nomes tipicamente «brancos», como Emily e Greg, enquanto os outros ficavam com nomes tipicamente «negros», como Jamal ou Lakisha. Sem surpresa, concluíram que um candidato negro com exactamente as mesmas qualificações profissionais e académicas que um branco tem muito mais dificuldades em encontrar emprego. Verificaram também que quanto mais qualificada a profissão a concurso maior a discriminação.

Os professores Roland Fryer, Jacob Goeree e Charles Holt levaram a cabo um jogo que ilustra as causas e consequências de tais injustiças. Repartiram os alunos entre empregadores, trabalhadores verdes e trabalhadores roxos. Cada trabalhador começa cada round com um nível de educação zero e tem a opção de comprar, ou não, educação. Os custos dessa compra variam de trabalhador para trabalhador e de forma aleatória. De seguida, cada trabalhador faz rolar dois dados de seis faces. Com base nos dados, é-lhe atribuída uma classificação. Quem tiver adquirido educação tem 25% de hipóteses de ter nota alta, 50% de ter nota intermédia e 25% de ter nota baixa. Para quem não investiu, as probabilidades são de 3, 28 e 69%, respectivamente. Finalmente, o empregador decide se contrata o trabalhador ou não. No entanto, apenas observa duas variáveis: a cor do trabalhador e o resultado do teste. O empregador ganha dinheiro se contratar alguém com educação e perde se contratar alguém sem educação. O procedimento é repetido 20 vezes. A única constante ao longo dos 20 rounds é a cor de cada trabalhador.

Numa dessas experiências, por mero acaso, os custos do investimento em educação foram maiores para os trabalhadores roxos nos três primeiros rounds. Esses custos acrescidos induziram estes trabalhadores a investir menos. A partir do quarto round, os empregadores deixaram de contratar trabalhadores roxos, enquanto os trabalhadores verdes eram quase sempre contratados. De nada servia aos roxos investirem em educação. Eram pura e simplesmente rejeitados. No fim do jogo, os ânimos estavam exaltados. Os roxos queixavam-se de discriminação. Os empregadores acusavam os trabalhadores roxos de serem de pouca confiança e de não investirem em educação. Um dos roxos retorquiu que deixou de gastar dinheiro a adquiri-la, porque raramente era contratado.

Ou seja, num ambiente absolutamente controlado, em que verdes e roxos partiram em igualdade e em que no início de cada round todos voltavam a estar nas mesmas circunstâncias, rapidamente se criou uma sociedade segregacionista com trabalhadores verdes educados e a trabalhar e com trabalhadores roxos, sem instrução, revoltados e desempregados.

Se isto acontece neste ambiente, imagine-se a realidade, com condições desiguais causadas por séculos de História de discriminação racial. É um ciclo vicioso da baixa instrução, baixos salários, elevado desemprego e alta criminalidade. A vitória de Barack Obama é notável e é uma estultícia desvalorizá-la. Felizmente que os americanos perceberam isso e não desperdiçaram a oportunidade de fazer História, dando um passo para uma América pós-racial.


Já conhecia a primeira experiência relatada, devido ao Freakonomics. A segunda é igualmente elucidativa...

sábado, 15 de novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Prop 8

Keith Olberman sobre a homofobia dos californianos. Os trogloditas do P"S" deviam ouvir isto. Seis minutos. E depois deviam-se envergonhar por serem tão estúpidos, tão maus e tão tacanhos.

Sentido de Humor

Hoje o grupo "The Yes Men" distribuiu 1.200.000 números de uma 'edição especial' do New York Times de 4 de Julho de 2009 e colocou on-line uma versão do digital NYT.

As notícias são as notícias com que as pessoas de bem sonham: o fim da guerra, Bush incriminado por traição, Thomas Friedman a pedir desculpa por ser um crápula e a declarar que não volta a escrever artigos de opinião, Condoleeza pede desculpa aos soldados por ter mentido sobre as armas de destruição massiça... divertidíssimo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Os professores

Estou mal informado sobre este assunto.
Como estou sobre outros.

É impossível a um eleitor estar devidamente informado sobre todos os assuntos respeitantes à governação e à política. No entanto, na altura do voto cabe-lhe avaliar os partidos e o governo o melhor que pode.
Claro que tem o dever de se tentar esclarecer, e perder algum tempo da sua vida a informar-se sobre as diferentes questões em jogo. Mas por muito tempo que perca numas, vai sempre ter informação insuficiente sobre outras.
Para isso, o eleitor acaba por ser forçado a usar heurísticas: formas de raciocinar que lhe permitem formar uma opinião, mesmo com informação incompleta. As heurísticas podem ser mais ou menos sofisticadas, mas são sempre falíveis. Podemos ter mais ou menos confiança neste indivíduo ou naquele pela avaliação de situações passadas, podemos ter em linha de conta quais são as partes interessadas, quais são as dinâmicas usuais de comportamento, etc... O importante é que exista sempre alguma abertura para corrigir uma opinião baseada em heurísticas se melhor informação revelar que esta era errada. Assim sendo, passo a expôr as minhas impressões sobre esta questão dos professores, num convite a que me esclareçam melhor se estiver errado.

1- Seria bom que passasse a existir um sistema de avaliação sério. Progressões automáticas, ou um número ilimitado de lugares de topo não cumprem este requisito. Os lugares de topo não precisariam de ser fixos por escola, mas o seu acesso teria de ser sempre de tal forma restrito que na prática só uma percentagem reduzida dos professores lhe pudesse aceder.

2- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem a este sistema é relativa à avaliação por pares, e toda a "politiquice" envolvida. O ideal seriam critérios objectivos. Será possível medir o mérito desta forma? Se sim, como seria isso feito? Parece-me disparatado medir o mérito quase exclusivamente pela auto-avaliação. Posto isto, existe alguma proposta em cima da mesa que cumpra o requisito 1 e que ultrapasse este problema?

3- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem refere-se ao peso dos encarregados de educação na avaliação. Tanto quanto descobri, este peso é muito reduzido. É defensável que não devia ser nenhum. Mas não estamos a falar de um problema grave, sendo o peso tão reduzido.

4- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem diz respeito à necessidade de passarem muitos alunos. Alega-se que promove o facilitismo, e premeia os professores que são mais generosos na altura de dar as notas, e não aqueles mais rigorosos.

4.1- Por si, parece disparatado que o professor seja avaliado pelas notas que ele próprio escolhe dar. Isto é como premiar um juiz quando absolve os arguídos - assim ele torna-se parte interessada no julgamento em curso, e a justiça fica comprometida. A ser assim, os professores têm toda a razão neste ponto. Será que eu percebi mal?

4.2- O senso comum diz-nos que em Portugal existe um grande facilitismo. Esta forma de avaliação é acusada de agravar este problema. Mas os números e os estudos aprofundados desmentem o nosso senso comum. Há argumentos sérios e bem estruturados que podem ser usados para sustentar que em Portugal não existe retenção insuficiente, mas sim excessiva. Isto foi uma surpresa para mim que acreditava que um dos nossos grandes males era o facilitismo. Creio que grande parte dos professores acreditam que é, mas podem estar equivocados. De qualquer forma, mesmo pretendendo encorajar os professores a alterar as suas taxas de retenção, a avaliação de professores não deve ser usada com esse objectivo. É possível defender que a generalidade dos professores devia aprovar mais alunos, mas é disparatado assumir que os melhores professores aprovam mais do que os piores.

5- Um aspecto muito positivo deste sistema de avaliação é que a assiduidade é tida em linha de conta. Já aumentou significativamente. Este é um aspecto a manter.

6- As críticas mais disparatadas que oiço por parte dos professores são aquelas que dizem respeito à "forma" como são tratados pela ministra. Se dão importância a este aspecto, perdem toda a razão. Sempre que leio entrevistas de Maria de Lurdes Rodrigues, ou a oiço a falar, parece-me que tudo aquilo que diz é uma exposição do seu ponto de vista perfeitamente normal. Geralmente algum tempo depois vejo os sindicatos indignados com uma expressão qualquer que ela usou, a "falta de respeito", a "arrogância", etc... Quase que dá a impressão de se terem de discutir a forma por não quererem discutir o conteúdo.

Conclusão: não me parece difícil de acreditar que este modelo de avaliação é mau. É o primeiro que cumpre o critério exposto em 1, e para que uma mudança desta envergadura saia bem não é estranho que se tenham de dar muitas voltas.
Aquilo que eu gostaria de ver seria um conjunto de propostas alternativas bem estruturadas, que conseguissem o apoio de grande parte dos professores, que obedecessem ao critério 1, e não descartassem o aspecto 5. Seria uma excelente oportunidade para que o nosso sistema de ensino melhorasse significativamente.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Palavra de animal!

O que nos distingue das outras espécies animais (para além da capacidade de escrever em blogues e outras coisitas desse género), é a faculdade de sacrificarmos os nossos interesses ao respeito pelos direitos de outrém (ou pelo bem comum). Não vejo essa capacidade nas outras espécies, e portanto continuo a achar que só os animais humanos têm direitos. Concretamente, nunca me apercebi de que os leões fossem capazes de controlar o desejo de comer um bebé indefeso, ou que os mamíferos não humanos fossem capazes de controlar o ímpeto para ter relações sexuais com uma fêmea isolada. Mas devo ser eu que tenho má opinião dos animais. Especiísta me confesso.
O Miguel Madeira defende que por os cães serem capazes de obediência/lealdade, teriam direitos. Mas não é a obediência que se exige de um cidadão. É a liberdade responsável. A obediência canina pode levar (e leva, por vezes) a um cão atacar um inocente. Um animal humano, pelo contrário, sabe onde a obediência deve parar: na obediência a ordens injustas, ou ordens para cometer crimes. Um animal humano que obedece a uma ordem para cometer um crime merece ser tratado como criminoso, seja polícia ou outra coisa qualquer. Não vejo os animais não humanos a serem capazes de interiorizar que os outros têm direitos, e duvido que alguma vez o venham a ser capazes, por muito que eduquemos os chimpanzés. Nesta linha, o Miguel pergunta o que faríamos perante os Neanderthal, se ainda andassem por aí, ou outras espécies hominídeas agora extintas (como o Homem das Flores, que pode ter existido até há poucas centenas de anos atrás). A questão é sem dúvida interessante.

O Francisco Burnay objecta que temos deveres para com o ecossistema. Eu não concordo. Temos deveres para com os outros seres humanos, que passam por garantir um meio ambiente saudável para eles (e para nós). O respeito pelo ecossistema é um meio de respeitarmos os outros animais humanos, e não um fim em si mesmo. E também me repugna a violência gratuita sobre animais. A violência que leva a que eles acabem no meu prato, essa, já não é gratuita. Mas rejeitarmos essa violência tem mais a ver com a sociedade (humana) que queremos do que com atribuirmos «direitos» aos outros animais.
O Ludwig Krippahl não me compreendeu, pois afirma que eu considero um direito uma espécie de «prémio». Não. Não se trata de medalhas. Temos deveres perante quem respeita os nossos direitos. Quem os desrespeita perde o respeito. E o que se faz a quem desrespeita os nossos direitos é justamente limitar-lhe os direitos. Por exemplo, privá-lo de liberdade. Ou de convívio social.
Só respeitamos quem se compromete a respeitar. Quem dá palavra de homem (ou de mulher).

Cisão no PS francês

À atenção dos apoiantes de Manuel Alegre: em França, anuncia-se a constituição de «um novo partido de esquerda», a formar por dissidentes de esquerda do PSF decepcionados com a vitória interna da linha «blairista» de Ségolène Royal, que defende alianças ao centro. O novo partido será formado por socialistas que se opuseram ao Tratado de Lisboa, que pretendem «pôr em causa o capitalismo», e que «para continuar socialistas têm que sair do Partido Socialista». Apontam explicitamente o exemplo do Die Linke alemão, e poderão concorrer às eleições europeias coligados com o PCF.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Consumismo - IV

Quem já acompanha este blogue há algum tempo sabe que, apesar de tudo o que penso sobre a publicidade, não advogo muitas restrições ao seu uso.

Acho razoável que seja limitada a publicade nas escolas e infantários - principalmente no que respeita a comida pouco saudável - e não me indigna que só a partir das 22h possam ser publicitadas bebidas alcoolicas. Também me parece razoável que exista um limite para o número de intervalos televisivos, e para a duração dos mesmos.

Nenhuma destas limitações pretende, nem pode, resolver o problema do consumismo. O problema do consumismo é mais profundo e está relacionado com a manipulação. É impossível proibir a manipulação em geral, sem destruir completamente o direito à liberdade de expressão. E isto é verdade para a manipulação em geral, e também verdade para a publicidade em particular.

Para a manipulação temos de desenvolver outro tipo de respostas, ao nível social, ao nível psicológico, ao nível comportamental. E a primeira defesa contra a manipulação é a indentificação do manipulador. Se entendermos que um determinado agente tem interesse em manipular a nossa percepção e comportamento, não necessariamente no nosso melhor interesse, é mais provável que abordemos a sua mensagem com espírito crítico. É menos provável que sejamos enrolados.

Então a primeira das armas que temos contra a publicidade é a conscencialização dos seus propósitos, dos seus instrumentos e tácticas. Quando os anúncios são descronstruídos, as tentativas de manipulação tornam-se transparentes, e a sua eficácia reduz-se significativamente.
É preciso ter em conta que quando a publicidade se torna menos eficaz num indivíduo, ela torna-se menos eficaz em toda a sua rede social. Assim, a conscencialização de uma rede social pode tornar-se progressivamente mais fácil.

E se a eficácia da manipulação na publicidade diminui, ela pode deixar de ser do interesse dos vendedores. Conforme expliquei num texto anterior, a manipulação tende a destruír valor, pelo que à medida que os indivíduos se forem tornando menos susceptíveis a esta manipulação, toda a sociedade sai beneficiada.

Consumismo - III

É comum associar os problemas do consumismo aos problemas ambientais. Na verdade, se não fossem consumidos tantos bens perecíveis, o impacto ecológico do homem sobre o nosso planeta seria menor. Ainda assim, creio que se trata de um problema diferente.

Enquanto que a economia clássica é incapaz de lidar com o problema fundamental do consumismo (a manipulação em geral e a publicidade em concreto), ela é mais do que suficiente para explicar porque é que os padrões de consumo actuais são tão devastadores para o planeta. A razão é simples: as externalidades associadas à produção de vários produtos não são internalizadas no custo dos mesmos.

Um exemplo simples: imaginemos que eu quero comprar um produto. Os fabricantes A, B e C usam uma técnica de produção que é agressiva para o meio ambiente. Com isso o custo de produção baixa, e como existe concorrência o produto é algo mais barato. Os fabricantes D, E e F não usam essa técnica. Neste caso, não é preciso manipulação alguma: se eu for irresponsável e não quiser saber do planeta, vou escolher os produtos mais baratos. D, E e F irão falir se não existirem consumidores responsáveis, enquanto que os envolvidos nas transacções de A, B e C continuarão impunemente a beneficiar à custa de destruição do planeta.

Se o consumismo faz as pessoas consumirem mais, é a ausência da internalização dos custos ambientais que desloca os padrões de consumo para bens cuja produção tem um impacto ambiental severo. Mas a resolução deste problema é mais simples e independente da questão do consumismo. Os custos ambientais têm de ser internalizados. Não o fazer, e isto é economia clássica básica, é ineficiente. Se os custos não forem internalizados, ocorrerão transacções voluntárias sem qualquer manipulação que causam destruição de riqueza - ou seja: em que aquilo que ambas as partes ganham é nenos valioso que a destruição que causaram.

Internalizar os custos ambientais nos bens de consumo é urgente e necessário. Mas não vai resolver o problema essencial do consumismo, descrito no texto anterior. Os indivíduos terão um perfil de consumo mais adequado ao valor que a sociedade der ao planeta, mas continuarão a consumir mais do que aquilo que serve os seus interesses.
Como evitar tal situação?

Consumismo - II

A economia clássica diz-nos que uma troca corresponde à criação de riqueza. Afinal, os dois agentes só participam na troca se cada um deles considera mais valioso aquilo que recebe do que aquilo que dá. Se ambos terminam a troca com algo mais valioso do que aquilo que tinham, então a riqueza aumentou. Ponto final.

Reticências, que as coisas não são bem assim. Se um indivíduo está interessado numa troca e o outro não, não quer dizer que a troca não se faça. O indivíduo interessado na troca pode utilizar várias estratégias para que a transacção se realize. A manipulação, a mentira, a ameaça (nos limites que forem socialmente aceites), e outras estratégias podem ser empregues, permitindo assim que sejam efectuadas trocas que não seriam necessariamente no interesse de ambas as partes. Assim sendo, é possível que uma troca crie riqueza, e é possível que destrua.

Estas estratégias de manipulação e engano são utilizadas hoje na publicidade (ver também aqui). Quando uma troca traz muita vantagem a um determinado vendedor, ele vai querer realizar o máximo de transacções. Assim, o publicitário eficaz é aquele cuja mensagem mais se aproximará deste objectivo, que alcança não apenas aqueles clientes "a priori" interessados na transacção, mas também persuade o máximo daqueles que não estariam.

Imaginemos um universo em que existem 3 fabricantes de sabonetes cada um com um produto conhecido por todos, dos quais cada um deles adequaria melhor ao gosto de 1/3 dos consumidores. Seria de esperar que se dois fabricantes iniciassem uma estratégia publicitária agressiva, a vendas do terceiro fabricante diminuissem - de outra forma não valeria a pena iniciar tal estratégia. Assim, ficariam todos pior servidos: não só os consumidores que tivessem alterado os seus hábitos de consumo, mas também todos outros que pagariam mais pelos sabonetes consumidos (a publicidade não é gratuita).

O advento actual do consumismo tem uma razão de ser análoga. Quando trabalhamos trocamos o nosso tempo por dinheiro. Se não existisse publicidade, no que respeita a quem ganha mais do que o suficiente para providenciar às suas necessidades básicas, ocorreria uma transacção entre tempo de lazer e bens de consumo. Cada um trabalharia o número de horas que desejaria para maximizar o seu bem estar.

Mas enquanto que os bens de consumo são publicitados, o tempo sem consumir não é. Tal como no caso do sabonete não publicitado, é de esperar que a publicidade distorça esta escolha no sentido de fazer as pessoas consumirem mais do que aquilo que seria o seu melhor interesse.

A publicidade recorre aos impulsos naturais descritos no texto anterior, tentando exacerbá-los no limite das possibilidades dos meios ao dispor. Interessa não apenas associar o objecto de consumo a sensações agradáveis, despertando o desejo do consumidor; interessa associar a posse do objecto a sucesso, e o reverso ao falhanço; interessa que tal associação não persuada apenas o potencial comprador mas também a sua rede social, por forma a torná-la real.

Assim, o consumismo exacerbado é uma consequência natural e expectável da publicidade.

Consumismo - I

Consumismo corresponde ao equacionar da felicidade individual com a compra de bens materiais e bens de consumo.

É verdade que a possibilidade de consumir bens materiais está relacionada com a felicidade. Afinal de contas, o facto de alguém ter fome, ou não ter acesso a uma casa, pode ser (e muitas vezes é) um obstáculo à felicidade. E mesmo no que respeita a bens e serviços que não correspondem às necessidades básicas, é natural que uma maior prosperidade seja algo desejado e procurado pela maioria das pessoas.

Mas limitar a procura da felicidade a esse aspecto é mais do que redutor - corresponde a uma cegueira algo patológica. Assim sendo, o consumismo é o fenómeno social correspondente ao alastrar desta cegueira.

Quais são as causas desta "epidemia"?

Geralmente responde-se que a causa do consumismo é o capitalismo. De facto, em certa medida é natural que o consumismo emirja exacerbadamente numa economia de mercado.
No entanto, em qualquer sociedade onde há posse, tende a existir uma relação entre a posse e o poder. Assim, é normal que tenhamos tendido a associar um sinal exterior de riqueza a um sinal exterior de poder.
A selecção natural explica porque é que muitos seres humanos primitivos não só tendiam a procurar o poder, como também a manifestá-lo. E isso explicaria porque é que para muitos a pose de bens considerados valiosos poderia ter como objectivo não apenas a satisfação das suas necessidades ou desejos, não apenas uma garantia de segurança futura, mas algo para exibir com orgulho, despertando admiração ou inveja. Assim já não seria apenas importante ter, mas mostrar que se tem.

O comportamento dos seres humanos continuou a ser algo condicionado pelos impulsos primários, mas à medida que as redes socias se foram tornando mais complexas, e diferentes valores entraram em jogo, para muitos a importância relativa destes impulsos começou a diminuir. A cultura passou a ter uma importância decisiva nas acções, decisões e objectivos dos diferentes indivíduos, e estes objectivos foram-se diferenciando à medida que frequentemente se tornavam progressivamente mais complexos, e até algo inescrutáveis. Uma prova definitiva de que o comportamento humano está longe de se resumir à luta pela propagação dos genes é o advento dos métodos cada vez mais eficazes de planeamento familiar.

Assim sendo, qual a razão pela qual no ocidente a «cegueira consumista» foi alastrando ao longo do século XX?

«Consumista compulsivo é um indivíduo, que procura a sua realização pessoal através do consumo exacerbado de bens, produtos e serviços. Está sempre infeliz. Ao comprar tudo o que vê, a vontade de comprar, em vez diminuir como seria de esperar, aumenta ainda mais. Se não tem recursos para comprar, fica revoltado, depressivo.»

Não, a selecção natural não explica isto. Pode ser parte da explicação, mas não corresponde à história toda.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Joseph Stiglitz: «Turn left for growth»

  • «Both the left and the right say they stand for economic growth. (...) Growth is not just a matter of increasing GDP. It must be sustainable: growth based on environmental degradation, a debt-financed consumption binge, or the exploitation of scarce natural resources, without reinvesting the proceeds, is not sustainable. Growth also must be inclusive; at least a majority of citizens must benefit. Trickle-down economics does not work: an increase in GDP can actually leave most citizens worse off.

    ###

    (...) So it is essential to ensure that everyone can live up to their potential, which requires educational opportunities for all. A modern economy also requires risk-taking. Individuals are more willing to take risks if there is a good safety net. If not, citizens may demand protection from foreign competition. Social protection is more efficient than protectionism. (...) A second major difference between left and right concerns the role of the state in promoting development. The left understands that the government’s role in providing infrastructure and education, developing technology, and even acting as an entrepreneur is vital. (...) The final difference may seem odd: the left now understands markets, and the role that they can and should play in the economy. The right, especially in America, does not. (...) They believe in a strong state with robust executive powers, but one used in defense of established interests, with little attention to market principles. The list of examples is long, but it includes subsidies to large corporate farms, tariffs to protect the steel industry, and, most recently, the mega-bail-outs of Bear Stearns, Fannie Mae, and Freddie Mac. (...) Markets are not self-correcting in the relevant time frame. No government can sit idly by as a country goes into recession or depression, even when caused by the excessive greed of bankers or misjudgment of risks by security markets and rating agencies. (...) Even in his era, businesses found that they could increase profits more easily by conspiring to raise prices than by producing innovative products more efficiently. There is a need for strong anti-trust laws.» (Joseph Stiglitz)

Os pró-israelitas estão calados

Gostaria de saber o que dizem sobre isto aqueles que juram que Israel é um Estado tão democrático e respeitador dos Direitos do Homem como qualquer país da Europa ocidental.

Re: Os animais têm direitos?

Pergunta o Miguel Madeira:
  • «na prática, dizer "os animais têm direitos" ou dizer "os humanos têm responsabilidades perante os animais" não será exactamente a mesma coisa?»

Resposta: claro que não. Também não é indiferente dizer «os humanos têm direitos» e «os animais têm responsabilidades perante os humanos». É que quem tem direitos, tem também a responsabilidade de respeitar nos outros os direitos que detém em si. E não vejo os animais (não humanos) a respeitarem os nossos direitos(!).

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um sonho!

Sem comentários. Um verdadeiro sonho. Fundamental para se perceber o que é o Partido Republicano hoje, depois de Bush ter colocado os evangélicos no poder.

E o Partido Republicano achava que esta mulher devia ter acesso aos códigos nucleares.

Rússia avança mais uma peça no xadrez do leste europeu

A Rússia decidiu colocar mísseis em Kalinegrado. Nada se pode opôr, em princípio: é território russo, embora, recorde-se, seja um enclave no «mapa» da UE. Mas a decisão é, obviamente, dirigida à expansão da OTAN, e um aviso para Obama. Mais um passo numa escalada um pouco estranha.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes he did. Now what?



Obama venceu com uma participação histórica (66%), uma maioria clara (vantagem de 6% ou 7 milhões de votos), e mais um discurso brilhante.

Será expectável que a principal mudança seja na economia. Obama comprometeu-se com políticas redistributivas que poderão inverter a tendência neoliberal que vem de Reagan, em 1980. Prometeu aliviar a dependência do petróleo. O resto do mundo poderá acompanhar (como geralmente acontece). Ou poderia, porque Barack Obama sobe ao poder no início da maior crise financeira do último meio século, o que pode ser tanto uma oportunidade como uma limitação.

No Iraque, Obama poderá apressar a retirada, deixando para trás a desordem e as ruínas geradas pelo seu antecessor. Nessa eventualidade, as tropas serão transferidas para o Afeganistão, o que fará mais sentido do ponto de vista da luta contra o bando de Bin Laden e Sartaui, mas que poderá ser um novo atoleiro. E Barack é pró-israelita. Tirando o Iraque (que não é nada), pouco muda na política externa. (Mas não esqueçamos que pôr fim à tortura e fechar Guantánamo, como prometido, seria um progresso assinalável.)

Evidentemente, a eleição de Barack Hussein Obama como presidente dos EUA é uma vitória global sobre o racismo. Mas não exageremos: Obama não cresceu num «gueto»; foi educado por uma académica «branca». O segredo para a «ascensão social» do filho de um estudante queniano foi crescer numa família de classe média que valorizava o trabalho e a instrução. (Seria possível na Europa? De certo modo, já aconteceu: Sarkozy é filho de um húngaro e neto de um judeu grego.) E, ao contrário do que pensam alguns, Obama não foi eleito com o velho programa da «discriminação positiva», mas sim com um discurso que supera a política identitária (em si, limitativa) da geração anterior de políticos «negros», e que transcende as divisões raciais. Um grande passo em frente.

O preconceito contra o ateísmo parece mais sólido. Embora filho de um ateu e de uma ateísta/agnóstica/humanista secular (há várias versões), Obama é um convertido ao cristianismo, todavia com autonomia para se distanciar do seu pastor favorito (um fundamentalista louco). Mas, mais relevante, é pouco coerente no seu laicismo: por exemplo, diz claramente que o ID não é ciência, mas parece defender o ensino obrigatório da religião, e promete alargar as «faith-based iniatives» de Bush (para quando «reason-based iniatives»?), ou seja, encontrar mais desculpas para canalizar dinheiro público para as igrejas. Pouco progresso garantido nesta frente.

Enfim, pior do que o Bush não será. De certeza. E isso comemora-se.

Bom Gosto e Bom Senso

E assim termina a ocupação da Casa Branca pelos usurpadores do Partido Republicano. Com o país de rastos, terminam 8 anos negros, de estupidez, corrupção, violência e indignidade.

Hoje vamos fazer uma festa no departamento! :o)

E pronto

São quase 10 horas aqui e parece impossível imaginar um cenário em que Obama não ganhe a presidência e os democratas não ganhem o senado e o congresso.

Agora resta saber se W não vai pegar fogo ao país nos dois meses que lhe restam e esperar que os novos senadores e congressistas democratas não vendam todos a alma amanhã de manhã às grandes empresas, por um emprego para o filho ou o genro, ou uma sinecura para a mulher.

Enfim, parece que desta vez os democratas conseguiram não destruir o capital político enorme que os republicanos lhes ofereceram.

Um website com toda a informação

Aqui: http://www.huffingtonpost.com/2008/10/30/election-results-electora_n_139361.html

Vou jantar fora e volto às 10, Central Time (6 horas mais cedo que em Portugal).

:o)

Enquanto isto, na Casa Branca...

...é o fim da picada. O NYT tinha um artigo sobre as coisas que George W. está a despachar: coisas inacreditáveis, contra o ambiente, a favor dos evangélicos, contra os direitos dos cidadãos, etc.

Mais 3 horas...

Para já não há nada escandaloso a assinalar. O Obama vai à frente nos seuintes estados:

Florida: 52 percent to 44 percent
Iowa: 52 percent to 48 percent
Missouri: 52 percent to 48 percent
North Carolina: 52 percent to 48 percent
New Hampshire: 57 percent to 43 percent
Nevada: 55 percent to 45 percent
Pennsylvania: 57 percent to 42 percent
Ohio: 54 percent to 45 percent
Wisconsin: 58 percent to 42 percent
Indiana: 52 percent to 48 percent
New Mexico: 56 percent to 43 percent
Minnesota: 60 percent to 39 percent
Michigan: 60 percent to 39 percent

E o McCain nos estados:

Georgia: 51 percent to 47 percent
West Virginia: 45 percent to 55 percent

Isto são 'exit polls', ou seja os votos das pessoas. Como se sabe, em 2004 as máquinas registaram mais votos no candidato republicano do que as 'exit polls' indicavam. Nos estados em que se votou em papel as 'exit polls' foram absolutamente rigorosas.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mais 12 horas e...

...começamos a ver o fim a este pesadelo de 8 anos!

Eu acordei com um sorriso mas aqui no campus os alunos estão tristes e cabisbaixos, silenciosos e deprimidos, como se a América fosse hoje invadida pelo Raul Castro. :o)

Mais 24 horas...

Ainda não nos podemos descontraír. Sem dúvidas nenhumas sobre a moralidade das próprias intenções, os republicanos vão fazer os possíveis por envenenar o dia de amanhã. Lembram-se das fraudes de há 8 e 4 anos?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ainda não há razões para festejar

Fraude, intimidação e supressão do direito de voto aos pobres e às minorias ajudaram Bush nas últimas eleições e podem fazer Obama perder.

Está lá tudo...ou quase

O fundador e líder histórico do BPN era Oliveira Costa (ex-secretário de Estado do cavaquismo, sob Miguel Cadilhe), que foi substituído por Abdul Vakil (o wahabita dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa), que foi substituído por Cadilhe (ver parêntesis mais atrás). Nos quadros do BPN aparecem também Rui Machete (Opus Dei), e outros ex-ministros do PSD: Arlindo de Carvalho, Amílcar Theias, Daniel Sanches e Dias Loureiro, o padrinho. E mais, o BPN tinha ligações ao sub-mundo do futebol.

E o que fez toda esta gente? Isto:

  • «Na sequência de investigações levadas a cabo pelo BdP sobre sociedades off-shore, o anterior presidente do BPN, Abdul Vakil, forneceu, em Junho, informações consideradas decisivas. Confirmava que o Banco Insular de Cabo Verde pertence ao grupo SLN, que controla o BPN, o que contrariava as garantias dadas inicialmente, "mas mais surpreendente ainda - sublinhou Vítor Constâncio - foi a revelação segundo a qual tinha sido descoberto um conjunto vasto de operações de crédito clandestinas", que não estavam registadas nas contas oficiais, mas sim num "balcão virtual". Estas, apurou o PÚBLICO, estavam instaladas em dois computadores, um deles portátil.» (Público)

E porquê? Talvez aqui se entenda:

  • «Quem conhece as empresas que constituem o grupo, sabe o quanto foi nelas investido e quanto elas poderiam facturar. A investimentos avultadíssimos, corresponderam sempre elefantes brancos, sorvedouros de dinheiro que estranhamente apresentavam lucros, -em algumas empresas do grupo, passam-se mesmo dias sem que seja carregado um camião. Não existia sequer o pudor de esconder o esquema.» (Sociedade em comandita)

Agora, parece que o PS os vai safar da falência. E da prisão?

Caiu a primeira peça do dominó português

  • «Em conferência de imprensa após a reunião extraordinária do Conselho de Ministros de domingo, o ministro das Finanças anunciou que vai propor ao Parlamento a nacionalização do Banco Português de Negócios, que acumulou perdas no valor de 700 milhões de euros.» (Público)
Na-cio-na-li-zar. Pois. Sócrates não é Vasco Gonçalves. Nem sequer Mário Soares. Esta «nacionalização» vai custar dinheiro ao contribuinte. E safar quem?
  • «O Banco de Portugal identificou operações de "centenas de milhões de euros [no Banco Português de Negócios] que eram clandestinas", não estavam contabilizadas nas contas do banco, revelou hoje Vítor Constâncio, em conferência de imprensa conjunta com o ministro das Finanças. Constâncio recusou-se a nomear responsáveis por essas operações, que levaram à situação de pré-falência da instituição, mas excluiu qualquer responsabilidade da actual e anterior administrações, lideradas por Miguel Cadilhe e Karim Vakil, respectivamente.» (Público)
Hm. Cadilhe e Vakil. ICAR e Islão. BCP e a banca wahabita. Bem me parecia que a moeda não tem religião.
  • «À nova administração foi exigida a realização de uma auditoria externa, cujas primeiras conclusões já foram enviadas à Procuradoria-Geral da República, disse. No total, estão abertos seis processos de contra-ordenação ao BPN e aqueles que evidenciam potenciais ilicitudes já foram denunciados à PGR, confirmou o governador.» (idem)
Isto está a ficar interessante...

Há meia hora

Sondagem CBS: Obama 54%; McCain 41%. USA Today: Obama 53%; McCain 42%. Faltam 48 horas, mais ou menos.

"Finally, some blue light, tectonic plate shifts, a sea change, we hear... a wave of despair carrying us to a new place. The bastards are finally meeting their grisly ends and will be discarded and abandoned as men come to power who will actually try to govern. I know we're supposed to be civil but I'm not a real believer in this method when dealing with crimes."

John Cusack, aqui.

domingo, 2 de novembro de 2008

Os mapas outra vez

Desta vez no Economist: nas cidades Obama (por causa do planeta), nos campos McCain (por causa do aborto e dos casamentos gay).

Quando penso na América republicana lembro-me sempre do Eça: "lapuzes, frescos dos matagais da serra."

Parece que não há dúvidas que, mais uma vez, a América vai votar no candidato democrata, como fez com Gore e Kerry. A questão é se, mais uma vez, as máquinas, os media, o Supremo Tribunal e os truques contra as minorias votam no candidato democrata.

sábado, 1 de novembro de 2008

A pergunta certa

«Quando os americanos forem votar na terça-feira penso que devem fazer a seguinte pergunta: se você fosse um prisioneiro de guerra, quem gostaria de ter em sua cela? Um homem eloqüente ou um homem de coragem comprovada?!»

Schwarzenegger faz campanha por McCain e diz que Obama é 'magrinho'

Também publicado no PiPismo.