segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Irlanda: fim do «segredo de confissão»?

O ministro da Justiça irlandês prometeu publicamente passar uma lei obrigando os sacerdotes católicos a denunciarem qualquer crime de abuso sexual de menores, mesmo que o tenham conhecido durante a «confissão» católica. Esta decisão drástica acontece no contexto do escândalo da pedofilia clerical na Irlanda, o qual já suscitou ao Primeiro Ministro do mais católico dos países da Europa ocidental um discurso tão laicista que nenhum Primeiro Ministro português depois de Afonso Costa ousaria fazê-lo. A gravidade das acusações de encobrimento nesse discurso do PM irlandês levou mesmo a Santa Sé a chamar o seu representante diplomático em Dublin. No sábado, a Santa Sé tentou aliviar a consciência rebatendo as acusações das autoridades civis irlandesas, apesar das comprovadas mentiras de pelo menos um bispo.

Historicamente, a Irlanda nunca conheceu o anticlericalismo. Do colonialismo inglês à actualidade, nunca republicanos, bolcheviques ou outros desafiaram o poder da igreja mais popular, a grande aliada da luta contra os ocupantes anglicanos. O que está a acontecer este ano poderá mudar tudo.

Recorde-se que em Portugal está em vigor uma Concordata, assinada em 2004, que garante no seu artigo 5º que «os eclesiásticos não podem ser perguntados pelos magistrados ou outras autoridades sobre factos e coisas de que tenham tido conhecimento por motivo do seu ministério». Ou seja, teoricamente, mesmo que inquiridos em Tribunal podem não denunciar crimes de que tenham tido conhecimento. Os pais que entregam os seus filhos a instituições católicas que interroguem a sua consciência.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

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