terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Uma entrevista minha

Aqui.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ainda no rescaldo do debate: mais umas ideias sobre o PS

O PS pode mostrar (e bem) que a Comissão Europeia sempre apoiou as suas políticas enquanto era governo; mas o governo defende-se mostrando (obviamente) que a Comissão Europeia apoia as atuais políticas. Aqui o jogo fica empatado. A posição da Comissão Europeia poderá ser relevante para o PS se defender, mas não para atacar. Onde o PS terá que tentar fazer a diferença será quando o governo o colar à troika, por ter assinado o acordo. Terá que demonstrar que o governo é mais troikista que a troika, uma vez que aplicou muito mais austeridade que a exigida pelo memorando. E terá que convencer que teria feito diferente, mesmo com a troika, e que não teria levado os portugueses à miséria, e que não teria depauperado o Estado. Aqui não adianta falar do famigerado PEC IV.

No rescaldo do debate em Serralves entre João Galamba e Nuno Melo: algumas ideias sobre o PS

A cena mais marcante do debate, para mim, foi quando o Nuno Melo estava a levar um baile do Joao Galamba e só lhe conseguiu responder "Eu olho para si e só vejo o José Sócrates." O PS tem que pensar seriamente sobre isto: não é só o "Correio da Manhã" e a Manuela Moura Guedes a pensar como Nuno Melo. Para eles Sócrates ainda "é" o PS. O líder do PS não tem que ser Sócrates (nem deve ser alguém que tenha andado sempre na sua dependência), mas ou causa este efeito a Nuno Melo e ao "Correio da Manhã", ou é totalmente irrelevante (só lhes interessará o Sócrates e não o PS). Se excluirmos a hipótese (nem académica é) de o PS renegar completamente os legados do governos de Sócrates, então o PS (friso bem aqui: o PS, não "a esquerda") tem que se convencer que "ou Sócrates, ou o vazio".

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Estado manda funcionária de empresa cometer crime, empresa é punida


O pide João Luís ordenou ao seu subordinado Nuno Lopes Dias que pedisse à funcionária da Optimus Gisela Teixeira a disponibilização dos registos telefónicos do jornalista Nuno Simas. Alguém tem dúvidas de que isto é ilegal? «Olhe, senhora da operadora telefónica, diga-me aí com quem anda a falar ao telefone esse senhor jornalista, a que horas e durante quanto tempo, está bem?» Há algum país em que valha a pena viver em que este género de ordem seja legal? Eu acho que não. O Ministério Público, pelo contrário, acha bem. Mais: diz que «não tinham consciência» de estar a cometer um crime. Temos portanto espiões que desconhecem a lei (ignorantes), ou então que fazem de conta que não a conhecem, quando são apanhados (fazem-se de parvos). A escolha da alternativa correcta fica para o leitor.

Entretanto, a Optimus é condenada a uma multa de 4,5 milhões de euros pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (uma instituição que, ao contrário do Ministério Público, protege a nossa liberdade e a nossa privacidade, e portanto a nossa segurança). Defende-se dizendo que «ajudou a descobrir o prevaricador». Tem alguma razão, mas esta empresa (e as outras) têm que aprender a não contratar criminosos (perdão, pessoas que não têm consciência de serem criminosos). Chocante, finalmente, que no meio disto tudo não haja demissões de pides, aposentações compulsivas, idealmente um ou dois deles darem com os ossos nas grades, ou então, vá lá, a condenação do SIED a uma multa, no mínimo, de igual valor. As escutas telefónicas são crime para quem executa a ordem mas não para quem a dá?

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os idosos "privilegiados" e os denunciantes desligados da realidade

É um discurso comum: os privilégios da «geração grisalha» são uma das causas dos problemas do país: o elevado desemprego jovem, a insustentabilidade do estado social, a crise. Mais recentemente, o economista João César das Neves deu, no Diário de Notícias, novo fôlego a esse discurso:

«A geração da revolução concedeu a si mesma reformas superiores aos descontos e insustentáveis
[...]
Quando, em nome de direitos e garantias, se estabelecem benefícios exagerados e injustificáveis, a própria lei torna-se injusta.»

Como todos os que fazem esta alegação, César das Neves* parece desconhecer a realidade: «Cerca de 80% dos pensionistas recebem reforma média de 364 euros».
A «geração da revolução», ou «geração grisalha», ou como a quiserem chamar, não é um conjunto de privilegiados a viver confortavelmente à custa das gerações mais novas. Pelo contrário: «Temos dos idosos mais pobres da UE».

A denúncia dos «privilégios» desta «geração» (assim, como um todo), se não nascer da má fé, é fruto da ignorância quanto à realidade do nosso país.

*E já não é a primeira vez que César das Neves tem problemas com os números.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Revista de imprensa (18-02-2014)

Acontece que quanto mais leve eles dizem que o Estado está mais pesado ele parece ficar para os cidadãos. Mais lento, mais incompetente, mais problemático. E é natural que assim seja. A eficácia do Estado, que o faz parecer mais leve, custa dinheiro. Que depois é devolvido à economia através do seu melhor funcionamento. É por isso que os países que funcionam bem e que são mais atrativos para empresas exigentes não chegaram lá através da degradação dos serviços públicos.

Os autodenominados "liberais" gostam de acreditar que tudo o que o Estado gasta é um roubo à economia, deixando-a mais pobre. Até fazem uns contadores em que explicam aos contribuintes até que dia do ano estão "a trabalhar para o Estado". Esquecendo-se de dizer até que dia do ano estariam a trabalhar para a seguradora, para o colégio, para o fundo de pensões e para todas as empresas privadas que garantissem os mesmos serviços que o Estado hoje oferece. Para uns poucos o negócio seria seguramente melhor. Mas para a maioria, nem um ano inteiro de trabalho chegaria. (...)

Mas claro que todo este debate só faria sentido se estivéssemos a falar de escolhas ideológicas. Para além de nunca se terem cobrado impostos tão altos, o mesmo governo que está a encerrar lojas do cidadão prepara-se para abrir postos do mesmo género em estações de Correios. Boa ideia? Excelente, se não tivessem privatizado os CTT. Ou se, privatizando, tivessem garantido no caderno de encargos da privatização esta obrigação de serviço público. Claro que não o fizeram, porque nenhuma privatização se faz em Portugal sem a garantia de que, para além do lucro dado pelo monopólio, o Estado não fica a pagar uma mesada qualquer.

(Daniel Oliveira, Expresso)

No dia do lançamento do livro de Vítor Gaspar: sobre a entrevistadora

"A propósito de bolsas: há para aí uma celeuma sem fim sobre a atitude do Estado face à ciência mas os números do Orçamento do Estado mostram que Portugal é o quarto país da Europa a investir em ciência e desenvolvimento. Que se passa?", pergunta aqui leve e frescamente a tia, sem se preocupar em confirmar se o que diz faz algum sentido (felizmente o entrevistado respondeu-lhe bem). Desta madame recordo uma entrevista que teve que ser remarcada (ou pelo menos a sessão fotográfica), e ela protestou porque tinha ido ao cabeleireiro de propósito. O mais engraçado nesta gente é que os preconceitos e as ideias feitas que escrevem são a única coisa que se ouve no meio que frequentam, que por sua vez é o único que conhecem. Como tal eles acham-se mesmo genuinamente imparciais. O grau de autismo chega a este ponto. Há quem a ache uma boa entrevistadora. Quanto ao título da entrevista: o Salazar também achava (genuinamente) que o país não resistia ao pingue-pongue da democracia.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Compreendendo disparidades salariais

A propósito deste dado impressionante, um texto do blogue mainly macro (via Desvio Colossal) alerta para um mecanismo que o explica:

«So what is the alternative story to the argument that executive pay reflects the market rewarding the rising productivity of CEOs? The first obvious point is that executive pay is not determined in anything that approximates an idealised market where prices are set to balance supply and demand. Instead it is set within a bargaining framework between employer (the firm) and employee (the CEO). Even if we imagine the employer in this case to be someone that genuinely reflects the interests of shareholders, the costs associated with losing your CEO, together with informational problems in assessing their true worth (which can lead to the age old problem of judging quality by price, and the ‘arms race’ that Chris describes), mean that the CEO potentially has substantial bargaining power.

Yet this situation did not suddenly arise in the 1980s, and it will be true in most countries, and not just in the US and UK. So why did executive pay start taking off in the 1980s in these two countries? Well something else happened at the same time: tax rates on top incomes were also substantially reduced. Why does reducing the tax rate on top incomes lead to a rise in those incomes pre tax? With lower tax rates, the CEO has a much greater incentive to put lots of effort into the bargaining process with the company. They, rather than the tax man, will receive the rewards from being successful.

This is the idea set out in this paper by Piketty, Saez and Stantcheva [3]. They call this a “compensation bargaining” model. The paper backs up this theoretical model with evidence that there is a “clear correlation between the drop in top marginal tax rates and the surge in top income shares”. In addition, they present microeconomic evidence that CEO pay for firm’s performance that is outside the CEO’s control (i.e. that is industry wide, and so does not reflect personal performance) is more important when tax rates are low. (Things like stock options.)»

Já tinha escrito sobre outros mecanismos explicativos aqui, aqui e aqui

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Quando um cábula das jotinhas discorre sobre ciência

Quando li as declarações de Passos Coelho sobre a evolução da ciência em Portugal tive alguma dificuldade em perceber se a trapalhada transcrita resultava de mau jornalismo ou da própria fonte das declarações. Depois de aceder à mesma notícia dada por outros jornais percebi que o cábula das jotinhas tinha despejado mesmo aquela trapalhada. Estava para escrever umas linhas sobre o assunto, mas o Prof. Carlos Fiolhais já disse quase tudo o que me aprazia dizer. Ler a entrevista integral do Prof. Carlos Fiolhais aqui.

Um extracto da entrevista:
"Infelizmente, o primeiro-ministro não sabe do que está a falar, pelo que não consegue transmitir uma mensagem com sentido. Podia e devia preparar uma declaração sobre ciência em vez de falar de improviso num português rudimentar.
Factos são factos. De 1995 a 2011 as actividades relacionadas com a investigação e desenvolvimento (I&D) conheceram em Portugal um extraordinário incremento, que nos devia orgulhar. O investimento nessa área passou de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), um valor muito inferior ao da média da União Europeia a 27 países (que era de 1,8% em 1995), para 1,5%, um valor bem mais próximo da média da UE, que é de 2,1%. Embora haja que descontar uma inflação nas declarações para efeitos estatísticos devida a benefícios fiscais, o investimento das empresas também aumentou no período indicado: entre 1995 e 2011, o peso do I&D das empresas passou de 0,1% para 0,7% do PIB. O número de novos doutorados por cem mil habitantes aumentou de 5,7 para 17,5 entre 1995 e 2011. Este investimento traduziu-se num significativo aumento da produção científica, medida pelo número de publicações: passou de 24 por cem mil habitantes em 1995 para 162 por cem mil habitantes em 2011. Os investigadores portugueses não só aumentaram, como passaram a produzir mais. A qualidade, que pode ser medida pelo número de citações dos artigos, aumentou também. Quanto aos registos de patentes também subiram de 4 para 11 por milhão de habitantes de 2000 para 2010, embora sejam reduzidos em comparação com a média europeia (112 por milhão de habitantes). Passos Coelho fala em patentes, mas esquece-se que há indicadores melhores para saber o impacto da ciência na economia: número de novas "startups", investimento em capital de risco e exportações de produtos e serviços com ciência incorporada. Apesar de faltarem estatísticas fiáveis, tudo indica que estes indicadores têm crescido."

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Sinto-me LIVRE

Terça-feira desta semana entreguei no Tribunal Constitucional as assinaturas, programa e estatutos de um novo partido político (não é um projecto unipessoal). Obrigado a todos, incluindo também os leitores deste blogue. A esquerda precisa de um abanão que a tire da modorra dos desentendimentos entre bolchevistas e moderadistas. A sociedade precisa de um partido que não seja exclusivamente para profissionais da política. E a República precisa de virar à esquerda.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Uma nota sobre os cortes na ciência

Há uma tendência para achar que os cortes na investigação científica têm afetado sobretudo as ciências sociais e humanas. É possível que os cortes tenham afetado um pouco mais as ciências sociais e humanas - nas bolsas, recorreu-se a estratagemas como desdobrar áreas das ciências da vida anteriormente agrupadas, e proceder de modo inverso nas ciências sociais e humanas, de forma a diminuir as disparidades no número de bolsas atribuído em cada subárea. De resto, tal corte extra não seria só nas ciências sociais e humanas, mas também nas ciências fundamentais (não aplicadas), como a Matemática e a Física, com menor prejuízo (mas também prejuízo!) das áreas mais aplicadas. Mas este efeito, a existir, é de segunda ordem: não é a causa principal. Conforme se pode ver na distribuição de bolsas de doutoramento e pós doutoramento recentemente atribuídas, os cortes são drásticos e afetam todas as áreas. O problema não está nas bolsas ou contratos atribuídos (que, em geral, creio terem-no sido a gente meritória, apesar de trapalhadas inacreditáveis e inéditas como as bolsas em Sociologia). Tão pouco o problema está em terem sido atribuídos mais bolsas ou contratos nesta área que naquela. O verdadeiro problema está nos cortes; está em terem sido atribuídas tão poucas bolsas e terem sido abertas tão poucas vagas de investigador FCT. Tudo o mais é, por agora, secundário, e só serve para dividir os cientistas, que é o que agora é menos preciso.

Dois notáveis artigos, justamente de autores de áreas bem diferentes: A FCT e a política de extermínio das Ciências Sociais e Humanas e Algo está mal no reino da FCT quando dois dos melhores alunos de Física do país não recebem bolsa.