sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Passos Coelho e o mundo real


terça-feira, 28 de outubro de 2014

A ascensão da direita radical na Europa

Não me dá qualquer satisfação verificar que no último quarto de século as votações na direita mais radical têm subido na Europa. Efectivamente, e considerando apenas os quinze países (1) que a União Europeia teve entre 1995 e 2004 (portanto, a UE anterior ao primeiro alargamento a Leste), temos o cenário exibido no gráfico seguinte para o total de votos em partidos da direita radical em eleições para o Parlamento Europeu.

Note-se que considerei nos somatórios os partidos (parlamentares ou não) assumidamente fascistas (MSI, British National Party, Aurora Dourada, os grupúsculos neo-franquistas espanhóis, entre outros), mas também os que tentaram ou tentam distanciar-se da extrema direita (Alleanza Nationale, Frente Nacional em anos recentes, FPÖ...) e ainda os populistas sem origem clara em grupos fascistas (UKIP, o PVV holandês, a Lega Nord, etc). O critério geral foi incluir qualquer partido de direita que fizesse do eurocepticismo e da hostilidade aos imigrantes as suas principais bandeiras. Critério que, todavia, torna criticáveis as inclusões dos clericais holandeses (que porém estão à direita dos fascistas em questões tão simples como o direito de voto das mulheres), do Debout la République (mas no qual Nigel Farage apela a que se vote) e mais ainda dos Fratelli d´Italia (porém, trata-se de uma organização descendente do MSI via AN). Todavia, tirando o 1,7 milhão de votos conjunto destes dois últimos partidos, as direitas radicais mesmo assim estariam em 2014 dois milhões de votos acima do seu anterior melhor resultado (o de 2004).

Analisando as percentagens de votos ao nível nacional, e novamente apenas para eleições para o Parlamento Europeu, temos um cenário de ascensão quase generalizada (a excepção são as oscilações na Áustria e na Alemanha) para este conjunto de partidos, durante este período, nos países do «norte da Europa» (2).



Deve notar-se que a subida do radicalismo de direita é mais clara a partir de 2004, e que com a excepção notável da Alemanha (e do Luxemburgo) todos os conjuntos de partidos nacionalistas nacionais estão em ascensão e (no mínimo) nos 10% dos votos em 2014.

Finalmente, as percentagens dos votos nos partidos do «sul» da Europa (3) em eleições para o Parlamento Europeu mostram um cenário diferente.


À excepção da França de 2014, os resultados neste grupo de países são menos impressionantes (há mesmo três países em que a extrema direita é irrelevante: Portugal, Irlanda e Espanha). Mais curioso, há uma queda nítida na Itália e na Bélgica nos últimos dez anos.

O conjunto destes dados mostra que as direitas radicais não são uma força negligenciável na Europa ocidental, em particular depois de 2004, e que o facto de terem vencido as eleições em três Estados (Reino Unido, França e Dinamarca), embora fosse previsível tendo em conta a tendência da última década, não significa que o fenómeno esteja restrito a esses países nem que possa desaparecer em breve.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

“É mais fácil financiar um "think tank" situado à direita"

Não é surpreendente que seja mais fácil financiar um "think tank" situado à direita.

Mas não nos podemos esquecer disso quando pensamos no debate público de ideias, e de como é fácil que o poder do dinheiro o enviese e distorça...

Parabéns Brasil!

O Brasil só poderá tornar-se um país mais justo se os cidadãos brasileiros confiarem mais uns nos outros. Tal só poderá ser obtido reduzindo as desigualdades. Tal propósito tem de ser o objetivo principal, e só se obtém gradualmente, e apostando na continuidade das políticas que a este respeito têm vindo a ser seguidas.

E agora só me apetece manifestar o gostinho que me dá a derrota desta gente... A hora deles em Portugal também chegará.


sábado, 25 de outubro de 2014

Em defesa de Rui Machete

Rui Machete está a ser atacado pelas pides portuguesas (SIS/SIED) por supostamente ter posto em causa o monopólio destas sobre a divulgação de informação confidencial nos media. Efectivamente, há meses que jornais portugueses (principalmente o Expresso) divulgam notícias sobre a dúzia de portugueses que se converteram ao Islão e se engajaram na luta pelo califado. Na sua entrevista à Renascença, Machete não disse nada que não fosse já do domínio público através dos media, como ele aliás explicou. Por essa entrevista, foi atacado no Diário de Notícias num artigo assinado por uma jornalista que funciona como porta-voz da pide (como se pode compreender lendo aqui e aqui). A nova pide portuguesa já ataca tranquilamente ministros, manipulando a imprensa. Haverá um dia (já terá chegado?) em que se achará com o direito de os demitir. O perigo maior para a República vem daí, e não da dúzia de portugueses jihadistas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Dúvida de um ateu sobre a abertura da Igreja aos homossexuais, divorciados e afins

Diz que decorreu um sínodo no Vaticano, onde se discutiu o aggiornamento da posição teológica da ICAR face a homossexuais, divorciados, etc.
Mas se a doutrina social da igreja e toda a teologia católica decorre directamente dos escritos sagrados infalíveis, como é que ela pode ser "aggiornada" em matérias tão "tangíveis"? (Outra coisa seria a imaculada conceição).

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Evo Morales, um balanço

Poucos líderes políticos internacionais terão sido tão ridicularizados pela direita como Evo Morales. Enquanto alguma esquerda olhava cheia de esperança e expectativa para a sua eleição, a direita profetizava as maiores desgraças: a Bolívia estava à beira de agravar a sua já difícil situação económica, e conhecer os amargos frutos do populismo que resultariam num sistema disfuncional que tornaria o país ainda menos desenvolvido. Eu não poderei exagerar a dimensão da catástrofe prevista. E devo confessar que eu próprio tive uma atitude cautelosa face à eleição de Evo Morales, fruto da minha ignorância sobre o próprio e sobre a Bolívia.

Desde 2005 já passaram anos suficientes para fazer um balanço da «catástrofe» Evo Morales:

1- O crescimento económico da Bolívia foi mais elevado durante os mandatos de Evo Morales que durante qualquer outro período nos trinta anos anteriores. As reservas internacionais do país são muito elevadas, e têm aumentado significativamente, atestando a solidez das contas públicas durante estes anos:





2- Este crescimento económico foi compatível com (e quiçá fomentou) uma notável diminuição da pobreza e das desigualdades:






3- Os gastos em saúde, educação, pensões têm aumentado significativamente. O investimento público tem sido muito elevado. Como se vê acima isso não inibiu (antes parece ter fomentado) o crescimento económico e a solidez das contas públicas:





4- A "Guerra contra as Drogas" não foi travada na Bolívia com o militarismo e repressão habitual, mas sim através da legalização do uso da folha de coca (mantendo ilegal a cocaína) e de uma política que limita a ingerência dos EUA nos assuntos doméstico através do pretexto do combate ao tráfico. A receita revela-se bem sucedida, atendendo à redução significativa do cultivo de coca:



5- Têm existido problemas e há críticas legítimas a fazer ao mandato de Evo Morales. Mesmo que as razões apresentadas (proteger e dar direitos laborais a crianças em situação de clandestinidade) tornem a medida menos indignante, continua a ser grave que regrida socialmente ao legalizar o trabalho infantil.


De qualquer das formas, as previsões de catástrofe económica e social resultaram em crescimentos económicos recordes, contas públicas sólidas, uma impressionante redução da pobreza e aumento das condições de saúde e educação da população.

No contexto da Bolívia, políticas como o aumento do salário mínimo (em cerca de 90%), a nacionalização dos sectores do gás e do petróleo, entre outras, parecem ter realmente servido o bem comum, e um desenvolvimento económico, social e humano equilibrado, em vez de provocar as catástrofes anunciadas.
Importa compeender porquê, e aprender o máximo com esta situação.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A sobrevalorização do conflito israelo-palestino

As guerras matam o bom senso. É difícil, mas não consigo deixar de dizê-lo: o conflito israelo-palestino teve, no verão de 2014, uma atenção mediática (e política) exagerada. Pelas razões seguintes.
  1. Facilmente se encontra uma dúzia de conflitos, ainda em curso, onde morreram mais seres humanos. Mais: no último meio século (49 anos) menos seres humanos perderam a vida na guerra israelo-palestina do que apenas nos últimos três anos (3) na Síria, ou nos últimos dez anos (10) no Iraque (para não sair do Médio Oriente; na guerra do Congo, só entre 1998 e 2003 poderão ter morrido uns cinco milhões de pessoas, ou seja, umas duzentas vezes mais pessoas; não contam porque eram negros?). E todavia, incrivelmente, sempre que há umas trocas de rockets entre Israel e a Palestina, dizem-nos (gastando toneladas de papel de jornal e gigabytes de caracteres) de um lado que há um «genocídio» em Gaza, e do outro que «a existência de Israel está em risco». Acontece (felizmente), que os palestinos de Gaza estão muito longe da extinção e que o Hamas não tem capacidade para ocupar Israel (mais facilmente são extintos os yazidi ou os cristãos do Médio Oriente, ou o Iraque deixa de existir).
  2. É um conflito essencialmente resolvido. Nenhum outro conflito no mundo depois do final da 2ª Guerra Mundial deve ter tido tanta atenção diplomática e de entidades políticas externas (e dos media). Resultou? Sim. Hoje, a guerra israelo-palestina não se propaga para fora das fronteiras daquela região minúscula (ao contrário do que acontecia nos anos 70 e 80). Está «contida». O nível de violência local também baixou. Os israelitas e os palestinos estão satisfeitos? Não. Ambos os grupos querem terra e recursos que os outros têm, ou seja, querem resultados incompatíveis a longo prazo. A esse respeito, terão que mudar de opinião. Ou continuar como estão.
  3. É uma guerra que não é do século 21. O conflito sangrento e global a que estamos a assistir hoje no Médio Oriente e no Norte de África é entre islamofascistas e coligações de laicos democráticos (uns) ou ditatoriais (outros). O conflito israelo-palestino não encaixa facilmente nesta polarização. Sobrou da segunda metade do século 20, quando a esquerda alinhava pelos palestinos por anti-colonialismo e porque a OLP era vagamente «socialista», e a direita por Israel porque era uma democracia isolada. Este alinhamento é anacrónico quando a liderança palestina pertence aos islamistas radicais e quando já houve eleições multipartidárias em boa parte dos países do Médio Oriente e do Magrebe. Transferir o confronto esquerda-direita para este conflito deveria ser coisa do passado, mas explica em parte a atenção que ainda tem. Como em parte essa atenção resulta de envolver judeus. E também de passar-se numa terra dita «santa» (irracionalmente, muita gente acredita que o «berço» de religião e meia deveria ser um pacífico paraíso).
P.S. Escrevi o essencial deste artigo em agosto. Publico-o hoje notando que felizmente já perdeu alguma actualidade, e que nos últimos dois meses se tem reflectido mais sobre o conflito com o «Estado Islâmico». Hei-de escrever sobre o assunto.

domingo, 5 de outubro de 2014

Viva a República!

(Último ano em que o 5 de Outubro não é feriado.)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A curiosa abstenção das primárias do PS

Nas eleições primárias do PS, votaram 175 mil cidadãos. Os cadernos eleitorais registavam 150 mil simpatizantes e 100 mil militantes. Portanto, houve uns 30% de abstenção. O que é muito curioso: dificilmente quem se registou como simpatizante há poucas semanas terá deixado de votar. Mas vamos assumir que, por uma razão ou outra, uns 25 mil cidadãos se registaram como simpatizantes e não votaram (abstenção de 17% entre os simpatizantes). Sobram 50 mil abstencionistas, que virão necessariamente dos militantes, e que correspondem a uma abstenção entre os militantes de 50%. Que é maior, até, do que a média nacional em legislativas.

A única conclusão clara é que o ficheiro de militantes do PS inclui muita gente politicamente apática. Ou morta. Ou qualquer coisa desse género.